"Sou, assim como você, meu caro Dr. Kárell, um filósofo, pois amo, discuto e contemplo a vida e toda sua extensão.
Sou um historiador porque me fascino recordando o passado.
Sou um visionário porque imagino e crio visões do futuro até mesmo em outras dimensões da loucura que outros nem mesmo conhecem.
Sou um astrólogo, pois me integro ao movimento perfeito do universo.
Sou um astrÔnomo porque nesse movimento existe um número infinito de possibilidades.
Sou um simplório artista porque vejo a vida como uma divina obra de arte de um grandioso artista de diversos pseudônimos, que não possui forma e habita muito além do abstrato estratosférico.
Sou um boêmio porque brindo e bebo com os meus no cálice transbordante da amizade.
Sou um mentiroso porque simplesmente não aprendi a arte de atuar.
Sou um jardineiro porque amo às belas mulheres; flores do jardim do mundo.
Sou também uma mulher. Por que não, Dr. Kárell, se admiro indizivelmente tão abrasante ser?
Sou um astronauta porque minha alma vaga débilmente pelo cósmo, apreciando inenarráveis paisagens, longe, muito longe de onde você dorme para um dia despertar.
Sou um cientista porque sinto as partículas subdivididas das moléculas dos átomos de vida que compõem a minha e a tua existência.
Sou um primata arqueólogo, um macaco ignorante, pois quando cavo, procurando por respostas, desenterro ainda mais perguntas.
Contudo, não me canso, preclaro Dr. Kárell. Muita vida resplandece dentro de meu ser e o ilumina em seus prazerosos passeios pelos vales da sombra da morte.
Sou também um juíz cético, pois preciso de fatos para compreender a verdade contestável que Buda, Cristo e todos os outros conduzem acerca do Todo, do Sempre e do aqui.
Sou a cura de minha própria enfermidade porque tenho consciência dos incríveis poderes de minha mente que não sei dominar.
Sou um bravo guerreiro porque muito mais difícil que desafiar a morte é duelar com a vida.
Sou um engenheiro porque vim a este mundo para construir amigos e dar seguimento em minha eterna existência espiritual.
E, por fim, sou um amante, pode acreditar meu grande amigo, um sensível amante desde o momento em que descobri que somos todos frutos de Ágape, o Amor Universal." Johann Wilkins, um de meus personagens, falando de si mesmo em um de meus contos.