Autores

Perfil

“Nunca fui bom no relacionamento com os outros. Confesso, há em mim uma deficiência em saber das pessoas, penetrar nas crises, perceber situações.

Demoro para conhecer alguém, sou dispersivo, não presto atenção em gestos, palavras, pequenas ações que são, às vezes, altamente esclarecedoras. Pode ser excesso de confiança, ingenuidade. O que é pior, preguiça de raciocinar, alinhar fatos, relacionar lances, observar. Ou me fechei em mim?

Há papéis acumulados em escrivaninhas, apesar da recomendação de jogar logo fora. Há quantos anos não tiro nada das gavetas? Só coloco. A memória de minha vida.

Que vida? Esta memória nunca consultada que vai ser atirada ao lixo quando eu morrer. Que sou nada na ordem das coisas. Papéis, fotos, contas, anotações. Que importância têm? Documentos do quê? De um homem comum. Ora, a história jamais se interessou pelo homem comum. E por que havia de?”

Ignácio de Loyola Brandão em "Não Verás País Nenhum"