Sou um velho candeeiro
Que já estou aposentado
No outrora fui tão famoso
Mas, hoje sou revoltado,
Lá pela zona rural
Sempre fui essencial
Em qualquer propriedade
Vivi minha vida nobre
Na casa de rico ou pobre
Fornecendo claridade.
Levei luz a os idosos
Aos solteiros, aos casados
As crianças inocentes
Aos fogosos namorados
Evitando um chameguinho
Abraço, beijo e carinho,
Causando a inibição
Porque eles na verdade
Teriam mais liberdade
Ficando na escuridão.
“Candeeiro” esse é meu nome!
Mas houve variação
Também fui alcoviteiro,
Lamparina, lampião,
Alimentado com gás
Levei minha vida em paz
Sem sequer imaginar
Que a tal da eletricidade
Vinha trazer claridade
Usurpando meu lugar.
No outrora fui proveitoso
E tive uma vida bela
Mas quando falta energia
Em vez de mim é a vela
Quem brilha em seu castiçal
E assim cheguei ao final
Depois da modernidade
No tempo rude eu vivi
Mas sinto que já perdi
Meu prazo de validade.
A minha composição
Se resumia num trio
Em um trabalho irmanado
Onde eu, o gás e o pavio,
Fornecemos claridade
Para o homem da cidade
Pra vila, pra o camponês
As festas sofisticadas
Por nós foram clareadas
Éramos a bola da vez.
E a minha atividade
Nunca foi uma qualquer
Pois desde o mais nobre rei
Ao mais pobre esmoler
Usaram bem meu clarão,
Da mais pomposa mansão
A mais mísera moradia
Ali eu estava presente
Fornecendo ao ambiente
A luz que ele carecia.
Levei minha claridade
Para as noites de natal
Prestei serviço na escola
Na igreja no hospital
Nas casas comerciais
Porém ninguém fala mais
Nesse utensílio caseiro
Que antes foi tão querido
Porém já está esquecido
Esse antigo candeeiro.
Cheguei ao píncaro da glória
Mas, minha fase passou,
Hoje conto a minha história
Certo que nada mais sou
Mesmo assim faço um relato
Para que saibam de fato
No passado quem fui eu
Pelo tempo fui vencido
E agora estou reduzido
A uma peça de museu.
Carlos Aires
29/08/2021