A JOGADORA NO BICHO
E O CAMBISTA TRAPALHÃO!!!
Jogar no bicho é um vício
Que muita gente contém,
Eu que não sou viciado,
As vezes jogo também,
Uma centena, um milhar,
Na esperança de ganhar,
Uma graninha mais forte,
Pra dá na vida um capricho,
Mas, para acertar no “Bicho”,
Sempre depende da sorte.
Tem pessoas que acreditam
Em intuição, em sonho,
Pode ser que funcione,
Mas mesmo assim eu suponho,
Que não vai adiantar,
Alguém querer decifrar,
Uma visão abstrata,
Que teve a noite ao dormir,
Eu não quero discutir,
Mas, acho pura “Cascata”.
Eu penso que nesse mundo
Pra tudo tem um limite,
Mas para o bom jogador,
O que não falta é palpite,
E quando está indeciso,
Apela, faz improviso,
Pra dá seu tiro certeiro,
Mas se a dúvida persistir,
O jeito mesmo é pedir,
Auxílio para o bicheiro.
Mas, tem cambista ardiloso,
Matreiro que só o cão,
Que inventa qualquer conversa,
Pra tirar do cidadão,
O dinheiro que puder,
E seja homem ou mulher,
Se entrar no papo furado,
Vai findar no prejuízo,
Fica totalmente “liso”
Com o bolso revirado.
Biu de Candinha era um desses
Que fazia a sua lábia,
Com a conversa bonita,
De maneira muito sábia,
Usava um palavreado,
Pra construir o traçado,
Sério, franco e inteligente,
Sem pressa, na calmaria,
E assim logo conseguia,
Convencer qualquer cliente.
Joaquina de dona Rita
Era uma mulher prendada,
Que tinha uma fazendola,
Jogadora inveterada,
Daquela que não tem tranca;
Quando chegava na banca,
Pra jogar, Biu se animava,
Pois de antemão já sabia,
Que a comissão do dia,
Com certeza triplicava.
Logo interrogava a Biu:
Diga qual vai ser o bicho?
Ele coçava a cabeça,
Respondia no capricho,
Hoje está para avestruz;
Ela grita Credo em cruz,
Esse bicho é muito feio,
Ele disse, tem razão;
Então jogue no pavão,
Pra ficar de bolso cheio.
Ela gostou dessa dica
E mandou ele passar,
Ele anotou e depressa,
Começou a conversar,
Foi dizendo: eu cochilei,
Um pouquinho, e até sonhei,
Num devaneio ligeiro,
E nesse sono agitado,
Eu via um burro trepado,
Lá em cima do poleiro.
Ela quando ouviu aquilo
Chega sentiu um abalo,
Exclamou: valha-me Deus!
Pois então se o bicho é galo,
Diz ele: eu também pressinto;
Passe do primeiro ao quinto,
Vá logo faça um favor,
Ele meteu a caneta,
Pensando noutra “mutreta”,
Sem remorso e sem rancor.
Quando findou disse assim:
Também tive outra visão,
Ela perguntou qual foi,
Ele disse num sei não,
Mas, pelo que estou lembrado,
Tudo que vi foi passado
Por detrás daquele morro,
Mesmo estando baço e opaco
Deu bem pra ver um macaco,
Discutindo com um cachorro.
Ela falou passe os dois
Logo sem titubear,
Eu hoje vou a desforra,
Desfazendo todo azar,
Que anda me rodeando;
Biu passou e disse quando,
Eu vi eles discutindo,
Lá no aceiro do mato,
Também deu pra ver um gato,
Junto com um porco e sorrindo.
Ela disse: agora pronto
Aumentou a confusão,
Ele falou: passe esses,
E mais camelo e leão,
E se o dinheiro lhe sobra,
Jogue a borboleta, a cobra,
Mande brasa, faça fé,
Pra não perder o embalo,
Bote a cabra e o cavalo,
Peru, tigre e jacaré.
Ela lamentou seu Biu
Eu nunca mais peguei nada,
Pois ele então sugeriu,
Porque não dorme peada,
Foi assim que fez Chiquinha,
Neta de dona Biuzinha,
E filha de dona Helena,
Amarrou “os mocotó”,
Ganhou dinheiro que só
Na milhar e na centena.
Ela disse Ave Maria!
Eita que proposta fraca,
Ele aproveitou a deixa,
Disse: jogue touro e vaca,
Urso, elefante, veado,
Águia, o coelho apressado,
Além do carneiro manso,
Fazendo esse investimento,
A partir desse momento,
Seu dinheiro tem avanço.
Joaquina foi na conversa
E sequer notou que tinha
Jogado naquele pule
A bicharada todinha,
Conferindo o resultado,
Viu que o peru tinha dado,
E naquela empolgação,
Foi procurar o bicheiro
Pra receber o dinheiro,
Pense na decepção.
Foi bem menos da metade
Do que ela tinha investido,
Biu foi quem se saiu bem,
Com o “converseiro” bandido,
Mas, pra você jogador,
Seja a senhora ou o senhor,
Que faz essa transação,
Vou lhe dizer numa boa,
Não perca dinheiro à toa,
Jogue com moderação.
Carlos Aires
09/10/2015