Vô le contar uma história
qui acunteceu cumigo
e também cum um amigo
qui era pareia meu.
Um dia ele chamô eu
pra ir no Sítio Faró
dançar um grande forró
na casa do véi Tadeu.
Aí eu disse: - Nós vamo,
mas premêro eu vô mandá
mãe torrá uma galinha,
pra mode a gente leva.
Pra cumê de madrugada
quando num tiver mai nada
no forró pra nós comprá.
- Eu sei qui lá no forró
vai tê tudo pra vendê,
todo tipo de cumê,
carne cuzida e assada.
Mas quando é de madrugada
os caba já tem cumido,
quem num tivé privinido
passa uma fome danada.
Fui num chiquêro e peguei
uma galinha amarela,
truci o pescoço dela
e mandei mãe prepará.
Depois da bicha torrada,
butemo o pé na estrada
e saimo a conversá.
Eu levava o calderão
Mané levava a farinha,
alguma coisa qui tinha
de cunversá, cunversamo.
Assim nós saimo andano,
prosano e contano históra.
Depois dumas duas hora
tava no forró chegano.
Faltano umas trinta braça
mode chegá no terrêro,
eu disse a meu cumpanhêro
o qui nós ia fazê:
- A gente vai iscondê
a galinha aqui no mato
e só no momenti izato
a gente vem cá comê.
Assim mermo nós fizemo.
Guardemo lá num lugá,
fumo pru forró dançá
no toque da concertina.
Dancei cum a Sivirina,
também dancei cum Zabé,
dispois avistei Mané
dançando cum Olindina.
De vez im quando Mané
ia lá no butiquim,
tomava uma de cachaça,
trazia outra pra mim.
Haja forró no salão,
haja cachaça no bucho.
Tocador dava ripucho
qui a safona ia e vinha.
Vamos deixá a festinha,
dispois nós vorta pra cá.
Vamo olhá cumé qui tá
o calderão de galinha.
Pur arte do satanás
uns cinco caba qui tinha
abaxado lá nos mato,
tumano umas cachacinha,
viram eu mais Mané chega,
também viram nós guarda
o calderão de galinha.
Cuma nós num vimo eles,
nem chegamo a suspeita,
só deu tempo nós saí
os sujeito fôro lá.
Cumêro a galinha toda
dispois por arte do cão,
deceram as calça e fizero
cocô den'do calderão.
Dexaro o calderão mêi
de cocô e sem demora,
guardaro no mermo canto,
se ajeitaro e fôro imbora.
E eu tô lá no forró
dançano, tomano cana.
Cada cabôca bacana
tinha pru caba iscolhê.
E haja a gente bebê
sem maginar na cilada.
Às duas da madrugada
deu vontade de cumê.
Aí eu chamei Mané
saímo os dois iscundido
cum mêdo de sê siguido,
um na frente e outro atráis.
O andá disaprumado,
se eu eu tava imbriagado,
Mané tava munto mais.
Quando nós cheguemo lá
Mané danô-se a cumê,
dispois pegô a dizê:
- Ô carne bôa danada!
Vamo lá, meu camarada,
vamo cumê da galinha.
A sua mãe na cuzinha
merece ser premiada.
Eu cumecei a cumê,
porém achei diferente,
era um preguêro nos dente
e um chêro muito mal.
Mané disse: - Tá legal,
mas para mió fica,
faltô sua mãe butá
mais um poquinho de sal.
Aí eu disse: - Mané, é mermo.
Tá mei insosso.
Mai me diga, uma galinha
é pra tê quantos pescoço?
Aí foi Mané me disse:
- Somente um, camarada.
Foi quando eu notei qui tinha
caído numa cilada.
Olhei pra Mané e disse:
- Caímo numa cilada.
O diabo dessa galinha
está toda atrapaiada.
Procurei achá um pé
num achei nem uma vez,
foi o contrário das coxa
qui eu achei mais de seis.
Num tinha carne cum osso,
era pra tê um pescoço
e eu cumi mais de trêis.
Hoje eu como muéla,
figo, bofe cum prazê,
como o fim do ispinhaço
basta botá pra fervê;
como coro cum farinha,
mas pescoço de galinha
num tem quem faça eu cumê.
do poeta Amazan