O diabo da besta fera

Publicado por: Paulo Seixas
Data: 18/07/2015
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Créditos

Um poema do poeta Amazan que recitei durante o meu segundo sarau poético, realizado na cidade de Queimadas/PB, em maio de 2011.

O diabo da besta fera

Por circunstança da seca

Um dia eu me vi forçado

A pedir a seu Fonseca

Um emprego de sordado.

Seu Fonseca era sargento

Por leis e por documento

De São José da Bonita,

Cachacêro depravado

Passava o dia socado

No boteco da Mãe Rita.

Quando eu pedi ao sacana

Um emprego de sordado

Ele dise: - Essa semana

Vou falá cum deputado,

Ispricá que a cidade

Istá cum nicissidade

De adquiri um praça.

Se ele dissé que sim

Tu vai trabalhá pra mim

Pra mode eu beber cachaça.

Eu tenho quase certeza

Que ele vai concorda,

Sente ali naquela mesa

Pegue logo a trabalha.

Separa aí as escrita

Das conta lá de Mãe Rita

Pra mode eu ir lá mais tarde.

Que quero vê dessa vez

Se o qu'eu ganhei esse mês

Dá pra pagá a metade.

De meóta de brejêra

Deu um fardo dessa artura,

Parece até brincadeira

Mas não, é verdade pura.

De cerveja e de conhaque

Quase lhe dava um ataque

Quando avistô o paio,

Ainda tinha ôtro feixe

De tira-gosto de peixe

Com caldo de mocotó.

Sei que fiquei trabalhano

Comeno mí com batata,

Passei o resto do ano

Sem recebê uma prata.

Nesse tempo em São José

Home, menino e mulhé

Inclusive também eu,

Não sabia que existia

Carro, quando um certo dia

Um bichiga apareceu.

Quem mulesta é que sabia

O que diabo era automove?

Começô a correria

Ao vere o fó vinte e nove,

Teve véa que mijô-se

Teve ôtra que socô-se

Dentro dum paió de fava,

Foi quando Chico Pantera

Gritô: - É a besta-fera

Que Padim Ciço falava!

Tinha um jumento amarrado

Dibaxo dum pé de figo,

Mas quando viu o danado

Temeu um grande perigo.

Quebrô a corda e correu

Entrô na casa de Abrêu

Danô os peito em Teresa,

Quebrô uns troço que tinha

Foi isbarrá na cozinha

Tremeno imbaxo da mesa.

Maria, irmã de Tonico

Deu um pinote da cama,

Prantô o pé num pinico

Correu vistino um pijama.

Até Mané alejado

Que tinha um pé invergado

E a canela virada,

Se esqueceu qu'era perneta

Dexô o pá de moleta

Saiu doido em disparada.

Gritaro: - Chame o sordado

Quisso é trabái pra puliça!

Eu saí mei assombrado

Mas pra num mostrá priguiça

Dei de garra da bereta

Sapequei na bicha preta

Uns dez tiro, mais á meno.

Nisso ela abriu-se dum lado

E um cabra saiu danado

De dentro dela correno.

Era o pobre do chofé

Que cum medo de morre,

Pulô fora, deu no pé

E o povo sem intendê.

Dissero: - Aquele escapô

Porque a gente salvo.

Chega Antonhe, vamo matá

Essa peste tá cum fome,

Já tinha ingulido um home

lntêro sem mastigá.

E a bicha saiu danada

Sem ninguém pra lhe aprumá,

Subiu logo uma calçada

Saiu derrubano um ba.

Lá na frente ela afobô-se

Virô a banca de doce

Do véio Mané Adelso,

lntrô pro dento da fêra

Saiu em toda carrêra

Virano tudo asavesso.

Aí pegô a chegá

Nego armado de cacete,

Machado, chibanca, pá

Foice, enxada, picarete

Baxaro logo a pancada

Davam cada burduada

Que o chão ficava incarnado,

Nisso o capuz se arrancô

Apareceno o motô

Que ainda tava ligado.

Foi quando Mané Piqueno

Gritô pra Sebastião:

- Tem um troço aqui bateno

Deve sê o coração.

Mete o cacete, menino

Que o coração tá bulino!

Nisso o gás foi derramano

Porque o tanque furô-se,

Aí gritaro: - Danô-se

A bicha tá se mijano!

Sei qu'esse carro ficô

Isbagaçado ao miúdo,

Agora veja o sinhô

O resultado de tudo:

Sabe quem era o chofé

Que correu do labacé?

Era o dito deputado

Que vinha ali no momento

Prepará os documento

Pra mode eu sê contratado.

Depois, sabe o que se deu?

Fonseca foi dispensado,

Mandaro um tal de Irineu

Pra mode sê delegado.

E eu fiquei trabalhano,

Trabalhei uns doze ano

Sem recebê um cruzado.

E só pude sair de lá

Quando acabei de pagá

O carro do deputado.

do Poeta Amazan

Amazan
Enviado por Paulo Seixas em 18/07/2015
Reeditado em 04/12/2017
Código do texto: T5315266
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