*UM ESCRAVO DA CACHAÇA!!!

UM ESCRAVO DA CACHAÇA!!!

A cachaça com certeza

É um bom aperitivo

Mas pra quem lhe der moleza

Logo encontra um bom motivo

Pra se transformar em vício,

Depois, haja sacrifício

Pra se livrar da “mardita”

Que seja homem ou mulher

Quanto mais bebe mais quer

Se aprofundar na “birita”.

Foi isso que aconteceu

Com Zezé de Mané Gôgo

De tanto que ele bebeu

Não saía mais do “fogo”

Estava desfigurado

O rosto pálido e inchado

Mãos tremendo, pernas fracas,

Mas, bebia até cair

Nas calçadas pra dormir

E enfim curtir as ressacas.

Chegava lá na bodega

Do velho Biu Serafim

E dizia meu colega

Bota aí uma pra mim

Hoje me acordei disposto!

E traga pra o tira-gosto

Uma piabinha assada

Serafim logo trazia

A cachaça, ele bebia

Porém não comia nada.

Quando no copo pegava

Logo dizia uma loa

Para o conteúdo olhava

E dizia essa é da boa

E arriscava um bendito,

Valei-me São Benedito

Ajudai-me nessa hora

O “mé” vai comer no centro

Pois a pinga que está dentro

Está chamando a de fora.

E fazia uma careta

Uma munganga um segredo

Quando findava a mutreta

Dava um estalo no dedo

Na boca passava a mão

Depois cuspia no chão

Dava um arroto e um escarro

Saia devagarzinho

Sentava lá no banquinho

Logo acendia o cigarro.

E depois se levantava

Andando meio sem jeito

Pois a pinga começava

A surtir um forte efeito

Gesticulando com a mão

Voltava para o balcão

E já com a voz embolada

Falava pra o bodegueiro

Desse jeito, companheiro,

Bote mais uma “bicada”.

Seu Biu muito paciente

Outra dose colocava

Zezé ficava contente

Erguia o copo e bradava

É só essa por enquanto

Jogava um pouquinho pra o santo

Que protege o beberrão

Dos maus efeitos da pinga

Senão o santo se vinga

Negando-lhe a proteção.

Repetia o ritual

Que fez no primeiro ato

Mas já se sentia mal

Porque a cana de fato

Demonstrava o resultado

E Zezé já transtornado

Ficava só resmungando

Jogando conversa ao esmo

Reclamando dele mesmo

Que estava exagerando.

Com as pernas tropeçando

Para o terreiro rumava

Tremendo e cambaleando

Dava engulhos, vomitava,

Suado, muito intranquilo

Sentava, dava um cochilo

Acordava de repente

E recomeçava a senda

Entrando outra vez na venda

Para beber novamente.

Sem poder falar direito

Fazendo momice e “bico”

E pondo em prática o conceito

“Todo bêbado é brabo e rico”

Já estava tão alterado

Que gritou muito irritado

Com alarido e banzé

E assim em tom de ameaça

Disse: bote outra cachaça

Pra o seu amigo Zezé.

Seu Biu naquelas alturas

Já estava a cem por hora

Usando palavras duras

Desse: Zezé vá-se embora

Você já bebeu demais

Por favor, não volte mais

A pisar no meu terreiro

Pra não me fazer afronta

Vamos acertar a conta

Passe pra cá meu dinheiro.

Bastante desconfiado

Zezé disse a Biu assim,

Se eu lhe disser que é fiado

O senhor vai achar ruim

O velho pegou um ar

E disse vá se lascar

Seu cachaceiro atrevido

Você vem pra venda liso

Bebe e me dá prejuízo

Isso é papel de bandido.

E corra daqui depressa

Senão lhe baixo a porrada

Você já bebeu a beça

Mas pra pagar está sem nada,

Diz-me que não tem “tutu”

Inda arma um sangangu

Achando que tem razão

Pois eu vou lhe advertir

Cuidado pra não sentir

O peso da minha mão.

Zezé foi se escapulindo

Pois viu que a “boca” era quente

E de fininho foi saindo

Devagar pela tangente

Disfarçando se escondendo

Assim sem querer querendo

Como diz o humorista

E Biu, de raiva espumando

Ficou de longe espreitando

Até perdê-lo de vista.

Daquele dia pra frente

Zezé foi desanimando

Já amarelo e doente

A cirrose lhe atacando

Barriga inchada, hepatite,

Tuberculose, bronquite,

De repente esmoreceu

Por ele ninguém fez nada

No fim de uma madrugada

Veio a morte lhe venceu.

Praquele que tem moral

E bebe socialmente

Bebida não fará mal

Mesmo que seja aguardente

Cerveja ou vinho importado.

Mas pra quem é viciado

Aqui eu deixo a mensagem,

Preste atenção vá por mim

Pra não ter um triste fim

Como o nosso personagem.

Carlos Aires 25/07/2014