*SENTENÇA INJUSTA!!!

SENTENÇA INJUSTA!!!

Já faz dez anos doutor!

Que vivo nesse engradado

Meu crime foi o pavor

De um pai desesperado

Que vendo os filhos sofrendo

De fome quase morrendo

Sem encontrar solução

Faminto e desempregado

Entrei num supermercado

Roubei um saquinho de pão.

Sei que não tenho razão

E também que estou errado

Mas, sem ter nenhum tostão

E estando esfomeado

Pedia e ninguém me dava

Confesso que já estava

Fraco e sentindo cansaço

Roubar é crime e é feio.

Porém peguei no alheio

Hoje amargo esse fracasso

Já não sei mais o que faço

Nesse sombrio ambiente

Pra sair desse embaraço

Pois eu sou quase inocente.

E o que fiz naquele dia

Sei que qualquer um faria

Estando no meu lugar

Pra quem está na miséria

Fome é coisa muito séria

Não dá para suportar.

Hoje vivo a lamentar

E a pensar na liberdade

Mas se acaso me soltar

Perante a sociedade

Passo a ser descriminado

Mal visto e ignorado

Por ser ex-presidiário

Vivendo em desassossego

Ninguém me dará emprego

Pra que receba um salário.

Eu sei, vai ser necessário.

Sofrer muita humilhação

Do meu erro involuntário

Peço desculpa e perdão.

Eu não sou um marginal

Só perdi minha moral

Por conta que fome ingrata.

Atacou-me, agi errado.

E o preço desse pecado?

É a repulsão da “nata”.

Ladrão de terno e gravata

Tem tantos nesse país

Agindo como pirata

Exibindo seus perfis

Transitando livremente

Rindo da cara da gente

Na maior empolgação

Feliz de barriga cheia

E ainda manda pra cadeia

Quem lhe acusar de ladrão

Eu sinto indignação

Ao ver tanta falcatrua

E o gatuno fanfarrão

Livre e solto pela rua

Num belo carro do ano

Feliz e fazendo plano

Sem que seja importunado

Se acaso pega um processo

Faz contato e tem acesso

Ao melhor advogado

Se hoje estou condenado

Por um crime tão banal

É porque fui obrigado

Fazer isso, e me dei mal.

E assim por recompensa

Recebi minha sentença

Vivo aqui trancafiado

Nessa cela imunda e fria

Perdi da vida a alegria

Estou e triste e abandonado

Duro é ser ignorado

Por essa justiça injusta

Que deixa um réu confinado

Por tão pouco, isso me frustra

Enquanto grandes ladrões

Que surrupiam milhões

Dos cofres, do nosso erário

Vivem livres e zombando

Do povo, e se deleitando.

Fazendo a gente de otário.

Doutor seja solidário!

Solte-me dessa prisão

Eu quero ser operário

Pobre e digno cidadão

Pra viver honestamente

Ter uma vida decente

Sem precisar me humilhar

Faça esse grande favor

Liberte um trabalhador

Que só pensa em trabalhar!

Carlos Aires 21/05/2013