A CASA QUE NASCI NELA!!!
Numa viagem recente
Que fiz ao meu Pé-de-Serra
Pra visitar minha terra
Achei tudo diferente
Senti a dor comovente
Por não ver mais a cancela
E nem a casa amarela
Que foi a minha morada
Hoje não resta mais nada
Da casa que nasci nela
Vendo a macabra tapera
Fiquei bastante abalado
Apagou-se o seu passado
Não demonstra mais quem era
No embalo dessa quimera
Concentrei-me com cautela
Lembrando o quanto era bela
De saudade até chorei
E num papel rabisquei
A casa que nasci nela.
Daquele alpendre imponente
Não vi sequer os sinais
Como também os portais
Ou ao menos um batente
Não encontrei tão somente
Um ferrolho, uma tramela
Senti a cruel sequela
Pesar por sobre meus ombros
Ao revirar os escombros
Da casa que nasci nela
Fechei os olhos, tristonho.
E a cena causou incômodo
Lembrei-me de cada cômodo
Como se fosse num sonho
O motivo eu nem suponho
Porque demoliram ela
Relembrei cada janela
Fiquei emocionado
Ao recordar o passado
Da casa que nasci nela
Ainda lembro a fachada
Numa visão excelente
Tão linda era a sua frente
Cinco esteios na calçada
A paisagem está guardada
Na mente em forma de tela
E jamais se desmantela
Porque não tenho coragem
De apagar a imagem
Da casa que nasci nela
E nesse monte de entulho
Envolto nos matagais
Aqui vivi com meus pais
Disso tenho muito orgulho
Ainda escuto o barulho
Do latido da cadela
Que estava de sentinela
Pronta para reagir
Com quem tentasse invadir
A casa que nasci nela
Lembrei-me da velha mesa
Da jarra, o pote, a quartinha
Dos dois banquinhos que tinha
Não esqueço com certeza.
Duma lamparina acesa.
No oratório uma vela
Cada evidência revela
Um tudo que hoje é nada
É em que tá transformada
A casa que nasci nela
Aonde a felicidade
Trazia tantos encantos
Cedeu lugar para os prantos
Pra solidão e a saudade
Perdeu a identidade
Hoje não é mais aquela.
Nessa pequena parcela
Da poesia que fiz
Mostro o quanto fui feliz
Na casa que nasci nela!
Carlos Aires 26/03/2013