UM PRISIONEIRO INOCENTE!!!

UM PRISIONEIRO INOCENTE!!!

Como és cruel! Ser humano!

Com teu instinto mesquinho

Sequer avalia o dano

Ao prender um passarinho.

Colocando atrás da grade

Quem vivia em liberdade

Na floresta e tão contente

Deixar pra trás seu abrigo

Pra amargar o castigo

De ficar preso inocente.

É um ato de covardia

Propício de um ser vilão

Que com sua teimosia

Age em nome da ambição

É refém do próprio ego

Que o deixa surdo e cego

Ante as bondades do mundo

Com a sua mente rude

Só cometendo atitude

De um errante, um vagabundo.

Sou um Galo de Campina!

O senhor das alvoradas

E de cantar trouxe a sina

Quebrando das madrugadas

O silencio sepulcral

E o meu belo recital

Cheio de encanto e elegância

Ao homem causou cobiça

Pra cometer injustiça

E alimentar a ganância

No meu viver prazenteiro

Eu sobrevoava as serras

Vales, colinas, outeiro

Ia pra distantes terras

Visitar outras paragens

Conhecer novas paisagens

Que ainda não conhecia

Sem ter noção da maldade

Pra minha infelicidade

Vim parar nessa enxovia.

Sou réu sem advogado

Cumpro a perpetua sentença

E sem cometer pecado

Minha tristeza é imensa

Sufocado no desprezo

Nem sei porque estou preso

Vivendo triste e sozinho

Num viver sem qualidade

Lembrando a felicidade

Que eu tinha lá no meu ninho

Minha pobre companheira

Nem sabe o que aconteceu

Num ninho lá na palmeira

Dois filhotes dela e meu

Com carinho ela cuidava

Enquanto eu ia e voltava

Pelo campo a procurar

Sustentos para a comida

Mas um dia eu dei partida

Nunca mais pude voltar.

É que a fome quando aperta

Por vezes não se resiste

Vi uma gaiola aberta

Com um cocho ceio de alpiste

Pensei, que dia de sorte!

E não fui bastante forte

Pra que prestasse atenção

Que aquilo era uma cilada

Um laço uma emboscada

Pra cair no alçapão.

Sem pensar entrei ligeiro

Na traiçoeira armadilha

Que ao pisar no poleiro

Logo se desengatilha.

No fulgor da inocência

Me faltou experiência

E essa minha distração

Custou-me caro demais

Hoje lamento meus ais

Nessa sombria prisão

Assim distante da mata

Desprezado vivo ao léu

Não ouço o som da cascata

Não vejo o chão nem o céu

O crepúsculo e a aurora

Hoje não são como outrora

Pra mim não tem arrebol

Envolto num negro manto

Perdi todo aquele encanto

Que sentia ao por do sol.

Por isso quero avisar

Aquele que me prendeu

Que jamais irei cantar

Minha voz emudeceu

Distante do meu rincão

Não encontro inspiração

Pra que possa dar um pio

Sem ter paz sossego e calma

Sou só um corpo sem alma

No mais profundo vazio!

Sei que desse calabouço

Jamais consigo sair

Nada vejo nada ouço

Que possa me distrair

Nessa cruel solidão

Pra que cante uma canção

Sequer me chega vontade

Da vida nada desfruto

Viver nesse negro luto!

Melhor morrer de saudade!!

Por isso venho implorar

A quem prende os animais

Aquele que bem pensar

Não fará isso jamais

E todo que se redime

Deus pai releva seu crime

Dos seus pecados esquece

E assim se acaba a tristeza

A mata ganha beleza

E a natureza agradece.

Carlos Aires 18/01/2012