ENTRE A FORTUNA E A MISÉRIA!!!
Zona nobre da cidade
Onde a fartas abastanças
Passando necessidade
Pude ver duas crianças
Essa cena comovente
Tocou-me profundamente
Causando decepções
Ver dois pobres sem guarida
A procura de comida
Nas lixeiras das menções
Eu calculei oito anos
Nesses pobres inocentes
Sofrendo esses desenganos
Sem terem pais nem parentes
E nem amparos legais
Disputam com animais
Migalhas que porventura
Pelo irônico capricho
Foram jogadas ao lixo
Por quem esbanja fartura
Entre imundície e mau cheiro
Sofrendo tantos maus tratos
Sem lar, sem pão, sem dinheiro
Passam momentos ingratos
São assim que se abastecem
Desses restos que perecem
Atirados ao relento
Já fétidos apodrecidos
Mesmo assim são ingeridos
Pra que sirvam de alimento
Existe um engradado
Na área de segurança
É condomínio fechado
Infeliz de quem avança
Ou ultrapassa os limites
Se não pertence às elites
Desse mundo de nobreza
Onde o luxo predomina
E também se descrimina
Os que vivem na pobreza
Logo após os alambrados
Que divide esses dois mundos
Dentro habitam os abastados
Lá fora os pobres e imundos
Diferem na aparência
Porém quanto à inocência
Deus do céu é quem controla
E faz com que o riquinho
Chame o guri pobrezinho
Pra com ele jogar bola
Ele disse, eu bem queria
Mas como posso adentrar?
Disse: vá à portaria
Peça ao guarda pra passar
Logo os garotos carentes
Dirigiram-se contentes
Para o lado do portão
Onde estava o porteiro
Que lhes respondeu grosseiro
Não pode entrar aqui não
Escute o que estou dizendo
Reconheça seu lugar
Ou será que não está vendo
Que aqui não pode brincar
Faça um favor, daqui saia
Vá procurar sua laia
De pivete e cheira cola
Junte-se aos da sua raça
Vá-se embora lá pra praça
Roubar ou pedir esmola
Será que não compreende
Que aqui tudo é diferente
Afinal o que pretende
Trombadinha delinquente??
Diante desses impasses
Rolaram daquelas faces
Lágrimas de dor e tristeza
Além de serem excluídos
Da nata, são repelidos
Com escárnio e com crueza
O ser humano insensato
Só valoriza quem tem
E dá desprezo e destrato
Ao sem nada o “Zé Ninguém”
Separam o trigo do joio
Negam-se a dar apoio
Aos mais necessitados
Com essa injusta manobra
Servem aos que tem de sobra
E renegam os flagelados
No decorrer do poema
Duas crianças citadas
Por esse mesmo problema
Milhares são afetadas
Vivendo aos trambolhões
Nos putrefatos lixões
Desnutridos, seminus
Passam terríveis momentos
Disputando os alimentos
Com ratos e urubus
Deus fez o mundo perfeito
Pra que toda criatura
Tivesse o mesmo direito
E não lavrou escritura
Ou mesmo outro documento
Deixando oitenta por cento
Nas mãos dos bem sucedidos
E o restante, os outros vinte
Pra que fosse feito acinte
Aos menos favorecidos!!
Carlos Aires 24/04/2011