UM DESPACHO DE MACUMBA!!! (causo)

Publicado por: Carlos Aires
Data: 18/07/2010
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AUTOR: CARLOS AIRES DECLAMADA POR: CARLOS AIRES FUNDO: SOLOS DE VIOLA CAIPIRA INDIO CACHOEIRA
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UM DESPACHO DE MACUMBA!!! (causo)

UM DESPACHO DE MACUMBA!!!

Eu voltava para meu lar

Depois de uma apresentação

Que fiz tentando agradar

O público no palhoção

E até que fiz sucesso

Porém ao dá-se o regresso

Num cruzamento de rua

A luz que tinha era a lua

O poste estava apagado

E ali foi depositado

Um despacho de feitiço

Tão grande, era o desmantelo

Eu vou tentar descrevê-lo

Não sei se consigo isso

Uma cabaça furada

Doze cravos de urubu

A cabeça de um timbu

Numa vareta enfiada

Uma galinha pelada

A corcova de um camelo

Um pacote de cabelo

Amarrado num barbante

Cachaça tinha bastante

Uma cueca rasgada

Uma bainha de espada

De flores eu vi um cacho

Tudo isso no despacho

Na rua de madrugada

Duas rosetas de espora

Um par de botas de couro

Penas do rabo de um louro

E de madeira uma tora

E com o rabo de fora

Estava dentro de um saco

Um filhote de macaco

E perto dele de um lado

Um gato preto amarrado

Numa caixa esburacada

Embaixo uma cobra entocada

Dois cigarros de boró

Tudo isso no catimbó

Que tinha na encruzilhada

Uma farofa amarela

Cheia de azeite e pimenta

Um frasco com água benta

Frutas em uma tigela

Um charuto e uma vela

Uma tacaca um furão

Uns três cavalos do cão

Um calango, um mangangá

Uma raposa um guará

Uma lata de goiabada

Uma camisa listrada

Uma urupema um cortiço

Estavam tudo no feitiço

Do catimbó da estrada

Tinha um galo preto e cego

De óleo todo melado

Uma chave de cadeado

Dois parafusos um prego

Eu tive medo, não nego

Fiquei um pouco assustado

Vi um chifre de veado

Um morcego um busca-pé

Um rosário de catolé

Caixas de fósforo um isqueiro

Também tinha um tabaqueiro

E estava cheio de rapé

De um bode eu vi perdurada

A cabeça num cambito

Tinha um bê-á-bá escrito

Numa folha toda amassada

Um saia velha rasgada

Uma toalha um calção

Uma barra de sabão

Um cururu um preá

Três penas de carcará

Um candeeiro sem gás

E ainda tinha mais

Feijão arroz e presunto

A mortalha de um defunto

Uma cruz e dois castiçais

Mijo de vaca donzela

Numa cuia de cuité

Três dentes de alho e um pé

De cravo numa panela

E dentro de uma gamela

Os restos de uma buchada

Uma carne amarelada

Mal cheirosa dava asco

Um chifre de boi e um casco

De tartaruga marinha

O sangue de uma galinha

Dois passarinhos num espeto

Um prato de feijão preto

E um pacote de farinha

Vi terra de cemitério

Dentro duma bolsa preta

A tampa de uma ancoreta

O disparate era sério

Desse lugar impropério

Eu saí arrepiado

Porém muito encorajado

Lembrei do que mãe dizia

Deus na frente paz na guia

Eu pensei comigo, amém

Quem vive fazendo o bem

Mesmo andando tarde ou cedo

Jamais irá sentir medo

De catimbó de ninguém

Carlos Aires 18/07/2010

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 18/07/2010
Código do texto: T2385256
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