MOTE DE DJAIR OLIMPIO & CARLOS AIRES
POR EU SER DE ORIGEM SERTANEJA
NÃO ME ESQUEÇO DAS COISAS DO SERTÃO!!
(GLOSAS CARLOS AIRES)
Por lembrar-me da terra onde nasci
Por jamais esquecer meu lugarejo
Por sentir no meu peito esse desejo
De voltar pro lugar onde vivi
Eu tentei esquecer não consegui
As paisagens da minha região
Pois quem migra pra longe do seu chão
Todo dia voltar pra lá deseja
Por eu ser de origem sertaneja
Não me esqueço das coisas do sertão!!
A galinha gostosa, de capoeira
No domingo a mulher sempre guisava
Pra comer com feijão farofa ou fava
Beber água aparada na biqueira
Comer frutos da velha quixabeira
Ou buchada de bode com pirão
Café forte pilado no pilão
De saudade meu peito até lateja
Por eu ser de origem sertaneja
Não me esqueço das coisas do sertão!!
Estou distante, mas inda sinto mágoa
A lembrança do outrora está presente
Do olho d’água da serra, essa vertente
Onde fui tantas vezes buscar água
Dos meus olhos o pranto até deságua
Recordando o velho casarão
Das panelas nas trempes do fogão
Ou dos favos de mel numa bandeja
Por eu ser de origem sertaneja
Não me esqueço das coisas do sertão!!
Gorjeando os sonoros sabiás
Tão felizes nos galhos de arvoredos
Lagartixas nas brechas dos rochedos
Se escondendo dos ágeis carcarás
Na areia o calango também faz
O seu túnel, mas só por prevenção
Pois o gato o cachorro e o gavião
Pra pegá-lo sequer nem pestaneja
Por eu ser de origem sertaneja
Não me esqueço das coisas do sertão!!
Pelos campos os galos de campina
Os canários da terra, as lavandeiras
Os saguins nas braúnas e aroeiras
Com os dentes cravados nas resinas
Das manhãs orvalhadas, das neblinas
Do timbu da raposa e do furão
De um tatu quando está cavando o chão
Da galinha que põe e cacareja
Por eu ser de origem sertaneja
Não me esqueço das coisas do sertão!!
Lembro ainda daquelas enxurradas
Do riacho a enchente rotineira
De relâmpagos, cortando a cordilheira
Provocando enormes trovoadas
Dos forrós Pé-de-Serra nas latadas
Das fogueiras nas noites de São João
Dos folguedos, dos fogos, do balão
Das rolinhas, com pinga ou com cerveja
Por eu ser de origem sertaneja
Não me esqueço das coisas do sertão!!
De repente os sapos aparecem
Também chegam cupins e tanajuras
Se arriscando fazendo aventuras
Voam alto, mas, muitos nunca descem
Passarinhos contentes enlouquecem
Saem cruzando o céu em profusão
Andorinhas promovem confusão
Se aninhando na torre da igreja
Por eu ser de origem sertaneja
Não me esqueço das coisas do sertão!!
As cortinas de nuvens se formavam
De repente o céu escurecia
Transformando em noite a luz do dia
Animais inseguros se abrigavam
E embaixo das árvores se amparavam
Ao ouvir o ribombo do trovão
Sertanejo transborda de emoção
E uma prece solene murmureja
Por eu ser de origem sertaneja
Não me esqueço das coisas do sertão!!
Carlos Aires 27/01/2010
Comentário do poeta Pedro Ernesto Filho
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=40550
Eu também fui nascido num recanto
onde o galo cantava dando a hora
um casebre amparado na escora
com um santo ampliado em cada canto
o seu dono pedindo a cada santo
que voltasse a chover no seu torrão
um menino escondio no oitão
imitando um cabrito que bodeja
por eu ser de origem sertaneja
não me esqueço das coisas do sertão.
Meu caro Aires, você foi de uma felicidade tamanha: versos grandes e ricos em tudo. Parabéns e que Deus o conserve assim.
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 29/01/2010 09:52