O CONCERTO DA MAQUINA DE COSTURA!!!
Tem coisas da nossa infância
Que a memória não apaga
Mesmo já estando a distancia
Mas, uma lembrança vaga
Sempre aparece na mente
Tal qual o causo presente
Que ora faço narração
Mencionando a estrutura
De uma maquina de costuma
Daquelas movida a mão
Mamãe costureira fina
A melhor da região
Costurar foi sua sina
E com muita perfeição
Por encomenda ou a pedido
Trazendo qualquer tecido
Ela logo transformava
Em calça camisa ou vestido
E no prazo estabelecido
A pronta entrega se dava
Costurava o dia inteiro
E entrava na madrugada
Ganhando pouco dinheiro
E ficando muito cansada
Era assim a sua luta
Parecia uma disputa
Ferrenha de tal maneira
Pois quem a acompanhava
Vez por outra exclamava
Eita que mulher guerreira!!!
A velha maquina citada
Era de origem alemã
Antiga já desgastada
A marca era Leonan
Mas, forte que só um touro
Costurava sola e couro
Mescla cáqui ou morim
Seda, alvorada, bramante
Pois era muito possante
Pra costurar qualquer brim
Por excesso de trabalho
Já se achava enfadada
Seu ponto já estava falho
A lançadeira rachada
E já sofriam as sequelas
O mancal e as bielas
Daquela velha engenhoca
Mamãe se via no aperto
Ninguém fazia o concerto
Das peças, e nem a troca
Um dia de tardezinha
Em determinado momento
Chegou a nossa casinha
Um cidadão num jumento
Usando calça culote
Sentado entre dois caixotes
Essa estranha criatura
Disse a pai, não entre em pânico
Sou apenas um mecânico
Dessas maquinas de costura
E de forma coerente
Disse: eu ficarei tão ancho
E também muito contente
Se o senhor me der um rancho
Aqui na sua morada
Eu quero só a calçada
Pra não ficar ao relento
Se o senhor disser que sim
Dê-me um pouco de capim
Pra alimentar meu jumento!!
O rancho foi concedido
Depois de uma rápida entrosa
O jegue foi recolhido
Logo começaram a prosa
Disse assim: sou um errante
Um andarilho inconstante
Vivo sempre a viajar
Na vida não tenho acerto
Sobrevivo de conserto
De maquinas de costurar
Minha mãe quando ouviu isso
Ficou bastante animada
Foi muito bom saber disso
Pois tenho uma empreitada
O senhor quebre meu galho
Estou sofrendo no trabalho
Por ser pouco o rendimento
Minha maquina está quebrada
Com quem deixe-a concertada
Não tenho conhecimento
O homem disse: senhora
Vou acabar de jantar
E vou começar agora
Sua maquina desmontar
E é com muita alegria!!!
Por favor, dê-me uma bacia
E peço-lhe não me condene
E pra que faça a limpeza
Coloque também na mesa
Um litro de querosene
Minha mãe preparou tudo
Conforme o homem pediu
Ele fez logo um estudo
E a maquina conferiu
Pra encontrar o defeito
Disse tá quase sem jeito
Portanto a hora é essa
Peço-lhe que não se afronte
Vai ser total o desmonte
Não vai ficar uma peça
E logo abriu os caixotes
Onde estavam as ferramentas
Foi demonstrando seus dotes
Com calma sem ter tormentas
E com muita maestria
Colocava na bacia
Cada peça que tirava
E mamãe impaciente
A pensar erradamente
Que ele nunca mais montava
Valei-me Nossa Senhora
Mãe dizia comovida
O que vou fazer agora
Minha maquina está perdida
Tava ruim, mas costurava
Era melhor como estava
Mesmo muito esculhambada
Sem me oferecer vantagem
Mas um monte de ferragem
Não vai me servir de nada
O homem ali sem ter medo
Desmanchou ela todinha
No outro dia bem cedo
Deu logo uma saidinha
Mamãe disse: e agora
O sujeito foi embora
Eu duvido ele voltar
Pra findar seu compromisso
Se não sabe fazer isso
Pra que é que foi inventar
Depois o homem voltou
E começou a montagem
A peça que desgastou
Ele fez uma soldagem
E depois que terminou
Mamãe nela costurou
Um pano pra fazer prova
Exclamou ficou perfeita
Estou muito satisfeita
A minha maquina está nova
E assim que tudo aprontou
Ainda limpou a mesa
Mamãe lhe interrogou
Quanto foi minha despesa??
Ele disse não foi nada
Logo pegou a estrada
E seguiu sua viagem
Mostrou ali seu talento
Recebeu por pagamento
Tão somente a hospedagem
Carlos Aires 26/12/2009