SODADE DO MEU LUGÁ!!!
(causo)
Você me ver inspiano, moço!!
Assim pro vasto infinito
Cum os oios marejano
E cum esse jeito insquisito
E qessa cara de choro
É qui o sol pru desaforo
Tá me declarano guerra
Já invadiu minha mente
E troxe pru seu poente
As image do Pe-da-Serra
Quonde ele tava se pondo
Pru dentraz daquela Serra
Grande vremeio redondo
Eu vi ali minha terra
Deu-me uma magua, um disgosto
Qui a lágrima desceu no rosto
Cuma se fosse cascata
E nessa hora silente
Sinti a dô de quem sente
Uma sodade qui mata
Arre qui o momento ingrato
Mi carsou um triste efeito
Sinti as rama do mato
Mi arranhá dento do peito
No fundo do coração
Mi carsando essa afrição
Qui mi dexô disgostôso
Pruque naquela paisage
Eu vi a prefeita image
Do meu lugá, “Frutuoso”
E essas lembrança marditas
Remexeu cum meus abróio
Mostrando o filmi ô a fita
Bem na frente dur meus óio
Tristonho e calado eu fico
Ao vê a Peda do Bico
E a Peda de Zacaria
A casa grande a purtêra
E a Peda de Moreira
Chega mi deu agunia
Vi a casa de Dondom
E o oi’dagua de baxo
Vi o pé, dos inbu bom
O juazêro, o riacho
E essas lembrança ferina
Fez dinovo eu vê Quntina
Torrando café no caco
Vi Zé Zuza e Ontonhe Migué
E vi no terreêro os guiné
Se lamentá qui ta fraco
Vi o currá dos bizerro
E o chiquêro das galinha
E sem tê marge de erro
Um pé de jucá qui tinha
No aceiro do terreêro
Quage entro in disispêro
Quonde vi a baraúna
Onde no rompê da orora
Faziam a trilha sonora
Concriz, campina e craúna
A purtêra do angico
Vi o barrêro do gado
A casa de Mané Chico
A várzea grande, o roçado
Vi o touro e a vaca branca
Eu garrado na chibanca
Suado arrancando tôco
Pra mode fazê caivão
Cunfesso qui essa emoção
Doeu moço, e num foi pouco
Tamém vi Julia lavano
Aigumas rôpas vremelhas
E no oitão ruminano
O carnêro e as uvelhas
E um pouquim mais pra riba
Lá no pé de imbiriba
Tava o jumento amarrado
Cumendo mii e descansano
E assim se prepanano
Mode pegá no pesado
Então moço o sol se pôs
E baxô da noite a curtina
Só mi dei conta depois
E logo vortei a rotina
Tirei o filmi da mente
E tive que seguí in frente
Sem mais nisso imaginá
Porém num vivo contente
E vou sentir eternamente
Sodade do meu lugá!!!!
Carlos Aires 02/10/2009