MEU SABIÁ VOANDO PRA LIBERDADE...
Sem resquícios de maldade
Mas sem prestar atenção
Que era uma barbaridade
Eu não tive a noção
E nessa atitude má
Eu peguei um sabiá
E coloquei na prisão
O pobrezinho assustado
Na maior ansiedade
Por ter eu, dele privado
De viver em liberdade
Depois foi se acostumando
E logo foi declamando
Seus poemas de saudade
Um dia eu fiquei atento
Ao escutar seu gorjeio
Que em forma de lamento
De angustia e de anseio
Demonstrava a saudade
E cobrava a felicidade
Que ele tinha no seu meio
Olhava pra mim tristonho
Essa ave pequenina
E como quem teve um sonho
Da vida lá na campina
A mim fazia o relato
Como quem diz seu ingrato!!
Porque me impôs essa sina
Eu vivia em liberdade
Na maior satisfação
Você sem necessidade
Colocou-me na prisão
Mesmo sem ser criminoso
Vivo tristonho e saudoso
Na mais cruel solidão
Eu com minha companheira
Era feliz no meu ninho
Lá no pé de laranjeira
Junto com meu filhotinho
Voava pra todo lado
Hoje estou confinado
Nesse cubículo mesquinho
Doeu no meu coração
Quando escutei o dilema
No embalo da emoção
Fui preparando o esquema
Pra soltar aquela ave
Libertá-la desse entrave
E acabar seu problema
Daquela triste enxovia
Eu abri a portinhola
Foi tamanha a alegria
Que quase não se controla
E nesse momento sublime
Pensei, se ele não tem crime
Pra que está na gaiola
Vai meu passarinho lindo!!
Voar por essas campinas
Eu aqui fico sorrindo
Porque sei que predominas
Te embrenha nessas entranhas
Sobrevoando montanhas
Campos vales e colinas
Voa minha ave bela
Por esse mundão afora
Hoje eu amargo a sequela
Da saudade que devora
E fico dizendo comigo
Se te livrei do castigo
Quem sofre sou eu agora
Termino esse poema
Com o peito aliviado
Meu sabiá foi o tema
Que me deixou inspirado
Carrego no peito a culpa
E ainda peço desculpa
Por ter lhe aprisionado
Carlos Aires 11/04/2009