O SERTÃO DO MEU OUTRORA
PRA O SERTÃO QUE VEJO AGORA...
Oh! Sertão cadê a vida
Tão abundante de outrora
Há tempo que eu fui embora
Voltei pra te visitar
Mas encontrei meu lugar
Parecendo com um deserto
Não tem mata, o campo aberto
E o sol quente assolando
E o povo se lamentando
Que tá com sede e com fome
Sem aroeira, bom-nome
Quixabeira, jatobá
Angico, pé de juá
Marmeleiro, catingueira
Jurema preta, oliveira
Pinhão, icó, caroá
Cadê o galo-campina
E o canário cantador
E com sua voz de tenor
Não declama o sabiá
Também não ouvi cantar
A craúna e o concriz
O nambu e o cordoniz
Rolinha, azulão, vem-vem
Já não se encontra também
Raposa, preá, furão
Ticaca, camaleão
Timbu nem lobo-guará
Tudo isso tinha outrora
E nada vi mais agora
Deu vontade de chorar
Deu-me um nó na garganta
Que chegou calar a voz
Pois nem mesmo aveloz
Não tem, desapareceu
O pé de jucá morreu
Era um bem grande que tinha
No terreiro da cozinha
Ficou na mente a lacuna
E o pé de baraúna
Tão belo na minha infância
Perdeu a sua elegância
Da idade já lamenta
Os anos nos deram uns trancos
Eu estou de cabelos brancos
E ela de folhas cinzentas
Mas mesmo assim o sertão
Entrou pra era moderna
Com a energização
Não se usa mais lanterna
Lâmpada em vez de candeeiro
Água não é de barreiro
Todo mundo tem cisterna
Com o progresso e o crescimento
Até o velho jumento
Que antes era tão usado
Hoje está aposentado
E de maneira discreta
A modernidade prossegue
E no lugar do velho jegue
Usa-se a motocicleta
E assim meu sertão querido
Hoje te vejo mudado
E ao lembrar teu passado
O peito está comovido
Apesar de ter vivido
Toda beleza de outrora
Reconheço que agora
O povo tem condição
Com saúde e educação
Transporte e água a vontade
E essa estabilidade
Deixou nosso povo astuto
Que hoje gozam o desfruto
Com tanta facilidade
Se não mora na cidade
Mas também não é matuto
CARLOS AIRES, 11/11/2008
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