MEU VALOR, MINHA HERANÇA
Se tu andas sozinho na selva,
O que fará se encontrar ouro,
Quando a feira está entre feras,
Ou se elas não comem tesouros.
Foi assim que o índio achou,
Cada cristal e até esmeralda,
Viu as gemas que a terra criou,
Mas só viu o valor da caçada.
Para um índio só presta harmonia,
Junto a tudo que seja alimento,
Pois nas tabas não há agonia,
Se os clãs cumprem o sacramento.
O valor está posto na natureza,
Cachoeiras e rios que apascentam,
Com os peixes que servem na mesa,
E os bichos que lhes alimentam.
Cada tribo se acomoda em bom solo,
Pelo tempo em que der a colheita,
Mas se o chão não lhes serve de colo,
Migra para onde a caça se deita.
Desde os tempos de suas origens,
Não aquelas com berço em África,
Que chegaram nessas terras virgens,
Quem andou pelos caminhos da Ásia.
Foram tantos milhares de anos,
Indo e vindo para chegar adiante,
Onde as mortes não eram o plano,
Mas nem todos estão nesse instante.
Hoje sei que nós temos parentes,
De várias partes desse planeta,
Mas as etnias dos sobreviventes,
São aquelas que viram os cometas.
Se os cometas tem ciclos e voltas,
As gerações dirão o que se pode,
E foi assim os desenhos nas rochas,
Que nos diz se foi onça ou bode.
Se eu tivesse a memória de antes,
Que resguardo no fundo da mente,
E meu corpo estivesse nos Andes,
Eu seria um condor simplesmente.
Ou então talvez fosse um lagarto,
Que parou de mutar ou se adaptar,
E ficou no caminho ou no regato,
Desde aquela hecatombe no altar.
Gira o mundo, mas estou parado,
Pois é a sensação que disponho,
E as eras me ocultam o passado,
Para que eu não fique tristonho.
Ninguém quer morrer, mas se morre,
Então vou preparar o meu futuro,
Vou deixar registrado no alforje,
De outro corpo, se ainda é escuro.
Minha herança está em meus genes,
Pois com ouro tenho sede e fome,
Se não há como comprar os bens,
Que sustentem meu eu lobisomem.