DIAS E NOITES DE VIDA

DIAS E NOITES DE VIDA

 

Quase sempre a noite me chama,

Onde, andarilho, sempre acato,

E no aguardo que não reclama,

Me entrego ao sereno incauto.

 

Muitas vezes me molho na chuva,

Ou no orvalho das madrugadas,

Pois estive com a lua viúva,

No verão ou pelas invernadas.

 

Com a lua a conversa fluía,

Mas aos corvos eu falei de dor,

E até mesmo se ainda chovia,

E os relâmpagos me dessem valor.

 

Quando o chão vê as trovoadas,

Sabe logo que terá seu presente,

Ressecado e vendo cada alvorada,

No aguardo de crescer a semente.

 

Só então, depois de irrigada,

E com todos excrementos do boi,

Que se juntam ao esterco de cabra,

A dizer que o tempo ruim já foi.

 

E eu, esse cavaleiro insone,

Agora, já perante o bom sol,

Vou, desperto, como um drone,

Aceitar um dia ser girassol.

 

Mas não sou flor para ficar mudo,

Então, vou subir no monte olimpo,

E, de lá, vou cobrir como escudo,

Cada espaço onde não há garimpo.

 

Vou plantar alimento e alegria,

Pois ter ouro é a maior ilusão,

Que levou o dono de Alexandria,

Até quando ele pediu meu perdão.

 

São nesses dias e noites de vida,

Pela eternidade enquanto história,

Que carrego na mochila curtida,

Tudo ou nada que resume a glória.

 

São meus erros e acertos de rumo,

Nos caminhos da minha embarcação,

Onde os rios me levam a Netuno,

Se o mar me der a permissão.