ÚLTIMO COMETA E FRANCISCO
Passou um último cometa,
E depois choveu meteoros,
Matou até o nosso gameta,
E selou o olho de Hórus.
Como ser falcão na fumaça,
Que vem do solo queimando?
Onde vai ter vinho na taça,
Se a vinha está definhando?
Não terei mais trigo e pão,
Nem verei mais peixe no mar,
Tudo vai findar na ilusão,
Que nos fez querer dominar.
Onde está meu modo de amor,
Depois de tanta escaramuça,
Que nos fez louvar só a dor,
Ou querer beber da cicuta?
Já perdemos nossos filósofos,
E nem mais verei cientistas,
Não terei a lenda em Cnossos,
Ou meus elfos como artistas.
Tudo agora é só maquinismo,
Sendo o povo mero algoritmo,
Tendo reis com pleno cinismo,
Todos mortos quando eu grito.
Hoje Deus é ouro e dinheiro,
Pois o cego já não imagina,
Não tem mais o tal cavalheiro,
Mas nós somos aves de rapina.
Ainda creio na vida de amor,
Onde também falo com os bichos,
E Francisco foi mais que pastor,
Quando teve as chagas de Cristo.