SEM ORÁCULOS

SEM ORÁCULOS

 

Eu não sei porque tu corres,

Se a vida é curta demais,

E as horas e dias escorrem,

Em águas que não voltam mais.

 

Eu queria saber o que pensas,

Desde quando não vives jamais,

Ou o que lê é prelo de prensas,

Se a imprensa já não é jornais.

 

No passado um carro só chegava,

Depois de reiterados cálculos,

Quando a engenharia se debruçava,

Pelas mesas e sem os oráculos.

 

E saiam com seus novos modelos,

Que às vezes nem viam a estrada,

Onde só fuscas eram os camelos,

Nas pirâmides já conquistadas.

 

Mas agora são aros dezessete,

E motores com muitos cavalos,

Sem ter tempo de pintar o sete,

Ou viver com seus tantos regalos.

 

Foi assim no retorno do vírus,

Que voltou da gripe espanhola,

Se lembrei da verdade das tribos,

Onde a morte foi nossa senhora.

 

E o que vejo é gente incrédula,

Pois não viram a fome e pobreza,

E só pensam na vida com cédulas,

Pois o voto é vendido por mesa.

 

Ninguém quer crer mais no tato,

Mas aceita o engodo das charges,

Que são breves chacotas do fato,

E se escondem das realidades.

 

Hoje a vida é um mundo paralelo,

Como fosse num êxtase por toque,

Pois se crê ter verde e amarelo,

Onde o sangue vermelho sufoque.

 

Não adianta se ensinar o óbvio,

Aos que são dominados como gado,

Porque esses só rezam em velório,

De quem nunca esteve ao seu lado.