COINCIDÊNCIA OU LEDO ENGANO

COINCIDÊNCIA OU LEDO ENGANO

 

Será coincidência ou fatalidade,

Se vejo a morte se antecipando?

E junto ao avanço da sociedade,

Só os suicídios estão ganhando.

 

Nossa idade média já é maior,

Em toda história da humanidade,

Desde que o fogo nos fez melhor,

Sem precisar ser hiena à tarde.

 

Hoje vivemos todos os turnos,

E já comemos sem ter de caçar,

Sem a dor de haver importunos,

Pois a ciência ganhou lugar.

 

A agricultura hoje se permite,

Mudar os ciclos e ter de tudo,

Mas, além do que foi a dinamite,

Há o risco de querer o absurdo.

 

Já tiramos o leite da pedra,

Mas não aprendemos a respeitar,

E vivemos do que se depreda,

Porque há prazer em derrotar.

 

Num ledo engano de superioridade,

Destruímos tudo, matando todos,

Criamos desertos em cada cidade,

Nas selvas de pedra dos esgotos.

 

Em cada edifício ninguém se acha,

E no elevador só há gente estranho,

Pois o suicídio é moda nas praças,

Como eco de quem pensou ter ganho.

 

Ninguém mais ora olhando pra lua,

Nem se comportam pedindo licença,

Pois já não olham o nome da rua,

Nem respeitam a dor ou a crença.

 

Tudo é maldade e orgulho ferido,

Onde a razão foi deposta por ódio,

Pois o amor já não é pretendido,

Porque o tolo rompeu o nó górdio.