“Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus".
"Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente".
"Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais".
"Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente".
"Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém".
"Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo". (I Co 2: 11-16)
Este poder de Deus na mente consiste em uma luz espiritual, e capacidade de discernir coisas espirituais de maneira espiritual, das quais os homens no estado de natureza são totalmente desprovidos (1 Co 2: 13,14), porque tal estado natural é de morte espiritual, da qual ninguém pode ser livrado para a vida, senão somente pela fé em Jesus.
Nem os loucos errarão o caminho para o céu e para a vida, quando eles têm uma experiência de salvação com Cristo e são salvos, ainda que em alguns deles permaneça a enfermidade mental que possuíam antes da conversão.
Vivemos em uma época, em que há novas e muitas enfermidades da mente e da alma, das quais não se tem notícia de terem sido assim abundantes no passado. Mas, nem por isso muitos destes ficam impedidos de serem alcançados pela graça salvadora de Jesus, pois a enfermidade em si mesma não é pecaminosa.
E, se tal quadro é abundante em nossos dias como uma consequência das visitações em juízo da parte de Deus, em relação à multipliçação da iniquidade por conta do pecado original, há nele uma advertência de que o salário do pecado é, de fato a morte, e que o Senhor chama todas as pessoas a um viver responsável perante Ele quanto ao uso que fazem, principalmente do corpo, não como instrumento de injustiça e pecado, mas buscando apresentá-lo como um templo purificado pelo sangue de Jesus, para a habitação do Espírito Santo.
Há uma guerra em que estamos envolvidos desde o nosso nascimento, que consiste em muitas batalhas contra o pecado, o diabo e o mundo, assim bem faremos se formos continuamente vigilantes contra tais adversários malignos, para que não sejamos supreendidos com ciladas que podem nos levar a perder muitas batalhas. Mas, para que sejamos mais do que vencedores por meio de Jesus, recebemos a habitação do Espírito Santo, para que andemos em todo o tempo sob a Sua direção, instrução, e poder.
O Espírito Santo, na primeira comunicação do princípio da vida espiritual e da santidade, "brilha em nossos corações, para nos dar o conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo” (2 Co 4: 6).
Na verdade, este fortalecimento da mente e a iluminação salvadora são os atos mais eminentes de nossa santificação; sem isso, existe um véu de medo e escravidão sobre nós, que não podemos ver nas coisas espirituais.
Mas "onde o Espírito do Senhor está", onde Ele vem com Sua graça santificadora,
"Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade".
E, assim;
"todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. (2 Co 3: 17,18)
"para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele",
"iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos". (Ef 1: 17,18)
Por esta razão, todos os crentes santificados têm uma habilidade e poder na mente renovada, bem como compreensão para ver, saber, discernir e receber coisas espirituais - os mistérios do evangelho e a mente de Cristo, em uma devida maneira espiritual.
É verdade, que nem todos que acreditam têm esse poder e habilidade no mesmo grau, mas cada um deles tem poder suficiente para discernir o que diz respeito necessariamente a si próprio e aos seus deveres.
Alguns parecem, de fato, ter muito baixo conhecimento; em comparação com outros, eles parecem muito ignorantes, pois há diferentes graus nessas coisas.
"E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo".
(Ef 4: 7)
Alguns deles são mantidos nessa condição por sua própria negligência e preguiça; eles não usam ou melhoram como devem, esses meios de crescer na graça e no conhecimento de Jesus Cristo que Deus prescreve a eles, como se vê em (Hb 6: 1-6) Mas, todos os que são verdadeiramente santificados e receberam o menor grau de graça salvadora, têm luz suficiente para entender as coisas espirituais do evangelho, de uma maneira espiritual.
Quando os mistérios do evangelho são pregados para os crentes, alguns deles podem ser declarados de tal forma, que aqueles de menor capacidade e habilidade podem não ser capazes de compreender corretamente a doutrina dessas coisas. Porém, ainda é preciso ser proposto desta forma, para a edificação daqueles que cresceram em conhecimento, no entanto ninguém existe, nem o menor deles, que não tenha uma visão espiritual das próprias coisas que são pretendidas, na medida em que são necessárias à sua fé e obediência em sua condição atual.
A Escritura testifica isso abundantemente para torná-lo inquestionável, pois "recebemos o Espírito que é de Deus, para que possamos conhecer as coisas que nos são dadas gratuitamente por Deus", (1 Co 2: 12)
Em virtude do que recebemos, sabemos ou discernimos as coisas espirituais; assim "temos a mente de Cristo", versículo 16.
Esta é a substância daquele duplo testemunho em 1 Jo 2: 20, 27.
Esta unção permanente, não é outra do que aquela graça inerente habitual, a que temos nos referido - por essa graça, porque é uma luz sagrada em nossa mente, "sabemos todas as coisas"; é o entendimento que nos é dado, para "conhecer aquele que é verdadeiro". (1 Jo 5: 20)
Somente, é seu dever se esforçar continuamente para melhorar e ampliar a luz que eles têm, no exercício diário do poder espiritual que receberam, e no uso dos meios de graça (oração, prática da Palavra, etc. Hb 5: 14) - isto é como um tipo de instinto novo que é implantado naquele que se converte a Cristo, pois tão logo seja instruído e movido pelo Espírito Santo, mediante a Palavra sobre qual seja seu dever como, por exemplo, o de perdoar seus ofensores; ele se inclinará para isto, ainda que não de forma perfeita, pois perdoar faz parte da mente de Cristo, que se encontra no crente pela habitação do Espírito, o qual sempre lhe instruirá sobre o caminho que deve seguir, caso não tenha sido apagado por pecados praticados e não confessados.
Os pensamentos espirituais e celestiais não podem surgir na mente dos homens por meios e ocasiões externos. A finalidade determinada por Deus para tais pensamentos, é a de produzir uma disposição e afetos santificados prevalecentes.
Os próprios pensamentos em si mesmos não provam portanto, que alguém é espiritual.
Quando você cultiva e aduba sua terra; se ela produzir colheitas abundantes é uma evidência que a terra é boa e fértil, mas se ao cultivar a terra você colocar adubo suficiente nela, e assim mesmo a produção não melhorar, você dirá que a terra é estéril.
Ocorre o mesmo com o coração dos homens. O coração estéril pode ter pensamentos espirituais pela força da convicção pessoal própria, mas não produzirá o fruto espiritual esperado por Deus, porque a terra do coração é estéril, porém o coração fértil, a saber, de um crente em comunhão com o Senhor terá pensamentos espirituais, que fluem do seu próprio interior, pela presença do Espírito, que produz em nós pensamentos e desejos santos.
A terra fértil do coração que recebe as chuvas da graça do Espírito, e produz erva útil é abençoada por Deus, mas aquela que produz espinhos e abrolhos é rejeitada por Deus, está perto da maldição, e seu fim é ser queimada, como lemos em Hb 6: 7,8.
É por meio dos afetos espirituais que a alma adere às coisas espirituais. A grande competição do céu e da terra é sobre os afetos do homem.
Quando Deus diz “Filho meu, dá-me o teu coração” (Pv 23: 26), são os nossos afetos que Ele está pedindo.
Ele não receberá nada de nós sem eles. O maior e mais caro sacrifício não será aceito se nele não estiver o nosso coração. Sobre isso o apóstolo nos informa que;
"E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará". (1 Co 13: 3)
Todos os modos e métodos da dispensação da vontade do Senhor pela Sua palavra, todos os propósitos da Sua graça eficaz apontam para este fim, isto é, recuperar os afetos do homem para Ele. Em outras palavras, Deus quer ser amado, estimado, adorado, louvado por aqueles que têm sido transformados em seus filhos.
Assim Ele se expressou em sua Palavra:
“Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti? Não é que temas o Senhor teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma”? (Dt 10: 12)
E é com o mesmo propósito, que Ele declara isto pela palavra da Sua graça.
“O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas” (Dt 30: 6)
Por isso, o juízo será certo sobre todo aquele que recusar o Senhor (Pv 1: 24-31), porque todos os artifícios do mundo, todas as grandes promessas que faz, todas as tentações de Satanás não têm nenhum outro fim, senão o de atrair e manter os afetos dos homens longe de Deus.
E, se o mundo é preferido antes de Deus, quanto a ganhar os nossos afetos, nós pereceremos juntamente com o mundo por toda a eternidade, e aquele que tiver rejeitado a Deus será rejeitado por Ele.
Nossos afetos estão em tudo o que somos. Eles são tudo o que nós temos que dar. São o único poder de nossa alma, por meio do qual podemos dar de nós mesmos. Por nossos afetos, nós podemos dar o que somos e temos; por este meio damos nosso coração a Deus, como Ele requer de nós.
Até o que fazemos para outros; tudo que é bom, valioso, ou louvável procede obrigatoriamente do afeto com que nós o fazemos. Fazer qualquer coisa em favor dos outros sem um afeto que anime nossas ações, é na verdade um desprezo deles, porque os julgamos realmente desmerecedores de que deveríamos fazer qualquer coisa por eles.
Dar ao pobre sem piedade ou compaixão, prover os desejos dos santos sem amor ou bondade, com outras ações e deveres de igual natureza são coisas de nenhum valor, coisas que não nos recomendam a Deus nem aos homens.
Tudo aquilo que fazemos no serviço de Deus; qualquer dever que executamos sob o comando dEle, tudo que sofremos por causa do nome dEle, se não proceder do interior de nossa alma e de nosso afeto por Ele, é menosprezado por Ele - como se; "... ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado". (Cantares 8: 7)
Não será comprado com riquezas; assim, se um homem desse a Deus tudo o que há em sua casa, sem amor, seria menosprezado de certa forma.
Por outro lado, nós podemos ser diligentes, industriosos, e zelosos quanto às coisas deste mundo, contudo sem que elas possuam nossos afetos no lugar de Deus.
Nós não somos do mundo, nós não pertencemos a ele.
Considere-se, no entanto, que por maiores que sejam nossos afetos pelo Senhor, continua uma verdade que somos falhos em muitas coisas, mas destas seremos perdoados, desde que as reconheçamos e as confessemos, por amor ao Senhor e à Sua honra e glória, pois o "Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo" (Tg 5: 11), conforme demonstrou no perdão dado à prostituta na casa do fariseu Simão, sob o argumento de que seus muitos pecados haviam sido perdoados, porque ela muito amou." (Lc 7: 47)
A fé dela em Jesus a salvou. Nada é dito de que tivesse pedido perdão verbalmente ao Senhor, por seus muitos pecados, nenhuma formalidade religiosa foi cumprida, mas sua atitude e choro denotavam o seu sincero arrependimento; e assim, Ele a perdoou instantaneamente.