Sorri

Publicado por: Charlles Nunes
Data: 15/07/2020
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Créditos

Charlles Nunes

Uma Professora Inesquecível

Charlles Nunes

Eu sou viciado. Em ler e escrever. E pelo visto, vou assim até o fim dos meus dias.

Também, pudera. Aos 8 anos, encontrei uma professora que me fez pegar o gosto pela coisa.

Eu me lembro como se fosse hoje. E lá se vão mais de 40 anos...

Eu estudava na Escola Municipal Paraíba, em Volta Redonda-RJ. Meu melhor amigo era o Geraldo Custódio Leal. Eu me lembro do nome dele inteiro, porque a professora fazia a chamada assim.

O Geraldo tinha vindo de Juiz de Fora-MG. Como ele tinha um sotaque diferente, eu fiquei desconfiado que podia ter vida humana fora da nossa cidade. Ele era meu melhor amigo naquela 'Primeira B' de 1977.

Quando a Tia Laura falava pra gente inventar uma história, a gente já sabia. O Geraldo ia terminar a dele assim: "E foram felizes para sempre."

Um dia, a Tia Laura leu a história dele, e depois leu a minha. Enquanto lia em silêncio, eu vi que ela deu uma risadinha...

No final, ela anunciou:

"As histórias do Geraldo têm sempre um final feliz. E as do Charlles, fazem a gente sorrir."

Depois, olhou pra mim e disse:

"Continua escrevendo, Charlles. Você vai alegrar muita gente."

Mesmo com aquela sala cheia, parecia que tinha só eu e ela ali. Senti um arrepio e pensei:

"O que será isso, Tia Laura?"

E eu levei mais oito anos pra descobrir...

 


 

Quando eu estava na oitava série, criamos um quinteto rebelde: Deco, Gilson, Toninho Oreste, Toninho Capeta, e eu. Nossa missão era simples: chamar a atenção das meninas fazendo qualquer doideira.

A gente estava indo até bem. Menos o Toninho Capeta, que vira e mexe passava do tempero.

Um dia, inventamos de bater bola com a cestinha da professora de artes. Tiramos a cestinha da bicicleta, fomos pra quadra e começamos a chutar pra todo lado. No final, ela nem encaixava mais na bike.

É claro que no dia seguinte, a gente só entraria com o responsável.

E lá fui eu contar pra minha mãe, que tinha tanta coisa pra fazer e ainda tinha que ir na escola escutar reclamação.

Na reunião, ela ficou ouvindo calada. Quando a Diretora e a Coordenadora terminaram, ela disse:

-- Charlles, se você não mudar seu jeito de ser, você acha que algum dia alguma professora vai querer saber o que você já sabe?

Fiquei quieto. Eu entendi o recado. Na hora, pulei fora do quinteto. Daí pra frente, o Toninho Capeta passou a me chamar de 'São Charlles'.

Nessa época de redenção eu fiz uma redação que caiu nas graças da professora:

"Você lê pra gente no dia da formatura?", ela perguntou.

Eita!, pensei. Agora, além de sair do quinteto, vou dar uma de bom moço? Mas não sei porque cargas d'água, acabei cedendo. Talvez, pra limpar a barra com a minha mãe.

No dia da formatura, eu suava frio. Camisa branca de manga comprida, gravata preta, o papel tremendo na minha mão. Uma combinação que não encaixava muito naquele sol de dezembro.

Quando a professora me anunciou, fui até o microfone, olhei pro papel e mandei brasa.

Li sem levantar a cabeça. Quando eu falei 'obrigado', foi palma pra todo lado. Senti de novo aquele arrepio que eu tinha sentido oito anos antes...

Daí pra frente, comecei a escrever direto. Fiquei uns sete anos escrevendo no diário, e até hoje de vez em quando eu pulo da cama pra escrever.

 


 

Quando lancei meu primeiro livro, dediquei pra Tia Laura. Ela veio participar da festa, e trouxe aquele mesmo sorriso que iluminava nossa sala de aula.

Muitos anos depois, comecei a visitar escolas pra incentivar as crianças a escrever. Tive muitas alegrias nesse projeto. Descobri histórias incríveis, que as crianças escreveram.

O prêmio que elas recebem por escrever cinco dias seguidos, é um caderno com uma dedicatória minha.

Na sala de aula mesmo, a gente organiza uma breve cerimônia - com tapete vermelho e tudo - e cada criança recebe o diário sob os aplausos dos colegas.

Eu aproveito o embalo e digo algumas palavras de incentivo pra cada criança. Algumas voltam pra carteira saltitando - de tanta alegria.

Espero que algum dia, alguma delas recorde esse sentimento.

E espero que o legado da Tia Laura continue por muitos anos.

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Você sabia que o livro 'Simplesmente Poliana', vendeu 500 cópias só no nosso bairro? Só não vendemos mais porque acabou o estoque mesmo.

Eu trabalho como professor de inglês. Nunca apareci na televisão por isso - nem ganhei qualquer tipo de prêmio - mas a cada aula eu me dedico e me divirto pra caramba!

Se você tiver interesse em aprender inglês, visite nosso outro site:

 

www.blzidiomas.com

Charlles Nunes
Enviado por Charlles Nunes em 19/07/2020
Reeditado em 30/01/2023
Código do texto: T7010083
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