Final de inverno, São Paulo de 2010
Uma carta resposta para bom entendedor em algum canto da Terra
Na vaidade de ser muitas tu te revelas nula, subjugada, fraca e (talvez) transparente. Sem cheiro nem cor e nem gosto, apareces como uma figura abstrata dentro de uma tela pendurada na parede do esquecimento.
Teu rosto, às vezes, parece um boneco de plástico, daqueles que se vende em casas de R$1,00 e se confunde com muitos outros rostos ( todos pérfidos) e gananciosos na louca tentativa de abarcar almas.
Tua galante palavra é subscrita em tabula rasa é bem verdade, porque ouso dizer que em outra vida foste a filosofia de pernas engalanada em jardins de muitas flores que se confundem com a lua em noites claras praguejando halloweens dantescos.
Em outras épocas eu pensava que tu eras girassol em campo aberto, onde o sol esgueirava-se em ondas por tua trajetória dourada, carnuda e benfazeja. Mero engano e triste constatação entre tantas primaveras onde tuas medidas eram exatas e tua voz um canto lírico através do insípido fio telefônico.
Ah, quantos enganos em tantos rostos (todos vaidosos) que habitam as cavernas do mimetismo.
Tu és a própria camuflagem. Uma relíquia para a posteridade. Entre teus aromas ornamentais, cheirando a nanquim e óleo floral te esconde em manequins isolados, petrificados, inertes e pálidos.
Estampa esquálida que insiste na sabedoria (vã), patética de ser mil caras.
O lago da vaidade espera por ti e como espelho há de refletir tua imagem – já esquecida por mim.
Tua batata está assando!
Coleção Boca no Trombone
By Lu C.