“Entre tantos jardins que já entrei, este que me refiro agora é especialmente belo, e quanta saudade me traz.
Enquanto caminho por suas alamedas, já não ouço mais o canto dos pássaros que outrora alegres gorjeavam entre as árvores, assim como o jorrar da fonte cristalina e forte que inundava de alegria os canteiros e as florzinhas que nasciam, enfeitando de cores seu interior..."
Esta breve descrição esboça um pequeno lado do perfil de minha amada avózinha, que hoje completa 86 anos. Uma pessoa como poucas, e por quem derramei muitas lágrimas. Lágrimas estas que não descem mais pela face, porém me inunda a alma, fazendo-me chorar calada.
Sinto-me anestesiada pelas circunstâncias... Uma sensação de impotência insiste em rir cinicamente, enquanto abre-se uma lacuna, que ficará para sempre. Porque no jardim não há mais flores, nem canteiros, nem fonte e nem pássaros, cercado está apenas de um gramado ralo e desbotado, trazendo em seu rosto as implacáveis marcas do tempo. Solo ressequido, gravetos espalhados...
Mais uma primavera que se foi...
Feliz aniversário, minha avó!
Em pensamento te abraço
No sentimento, desejo-te paz!
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Isto foi somente um desabafo, um desaguar de dores e saudades porque minha avó
encontra-se atualmente "morando" em uma clínica para idosos e, infelizmente é portadora do Mal de Alzheimer. E por mais que possamos gesticular, por mais que possamos expressar nossos sentimentos através de sons, lágrimas, toques, sorrisos, apelos, tudo continua inerte. Seus olhos opacos fitam o vazio, quem sabe sua alma já contempla o outro lado da vida!?
Com todas as saudades que eu sinto nesse momento, esta foi a única forma que encontrei para homenagear-te, minha querida!
(escrito em 9 de outubro de 2003)
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Atualizando a vida: Hoje ela já não mora mais em lugar algum, apenas flutua em campos de pétalas nacaradas. Seu sorriso, certamente continua azul, refletido no branco das cores. E meu consolo é saber-me aliviada por não mais vê-la sofrer!
Guardo-te em mim e isso é imutável e intransferível.
Amo-te além desta eternidade que estás, e que eu ainda desconheço!
Sua neta primogênita
Lu C.
*em algum dia de 2006
by Lu C.