Carta Póstuma - Um Jardim com 86 anos

Publicado por: Lucinha Oliveira
Data: 22/09/2010

Créditos

Texto: Lucia Helena Cavichioli Voz da Apresentação: Odair Silveira (DJ Baco) Voz da Interpretação: Wanda Rabello Trilha Sonora: Eleanor Rigbv (The Beatles) - Por Stanlev Jordan Edição de Som: Wanda Rabello Direção Artística: Odair Silveira (DJ Baco) Colaboração Preciosa de Gennaro Vela Agradecimentos a poetisa Grace Fares (DJ Grace) e toda a equipe de gravação Dom em Vozes
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Carta Póstuma - Um Jardim com 86 anos

“Entre tantos jardins que já entrei, este que me refiro agora é especialmente belo, e quanta saudade me traz.

Enquanto caminho por suas alamedas, já não ouço mais o canto dos pássaros que outrora alegres gorjeavam entre as árvores, assim como o jorrar da fonte cristalina e forte que inundava de alegria os canteiros e as florzinhas que nasciam, enfeitando de cores seu interior..."

Esta breve descrição esboça um pequeno lado do perfil de minha amada avózinha, que hoje completa 86 anos. Uma pessoa como poucas, e por quem derramei muitas lágrimas. Lágrimas estas que não descem mais pela face, porém me inunda a alma, fazendo-me chorar calada.

Sinto-me anestesiada pelas circunstâncias... Uma sensação de impotência insiste em rir cinicamente, enquanto abre-se uma lacuna, que ficará para sempre. Porque no jardim não há mais flores, nem canteiros, nem fonte e nem pássaros, cercado está apenas de um gramado ralo e desbotado, trazendo em seu rosto as implacáveis marcas do tempo. Solo ressequido, gravetos espalhados...

Mais uma primavera que se foi...

Feliz aniversário, minha avó!

Em pensamento te abraço

No sentimento, desejo-te paz!

***

Isto foi somente um desabafo, um desaguar de dores e saudades porque minha avó

encontra-se atualmente "morando" em uma clínica para idosos e, infelizmente é portadora do Mal de Alzheimer. E por mais que possamos gesticular, por mais que possamos expressar nossos sentimentos através de sons, lágrimas, toques, sorrisos, apelos, tudo continua inerte. Seus olhos opacos fitam o vazio, quem sabe sua alma já contempla o outro lado da vida!?

Com todas as saudades que eu sinto nesse momento, esta foi a única forma que encontrei para homenagear-te, minha querida!

(escrito em 9 de outubro de 2003)

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Atualizando a vida: Hoje ela já não mora mais em lugar algum, apenas flutua em campos de pétalas nacaradas. Seu sorriso, certamente continua azul, refletido no branco das cores. E meu consolo é saber-me aliviada por não mais vê-la sofrer!

Guardo-te em mim e isso é imutável e intransferível.

Amo-te além desta eternidade que estás, e que eu ainda desconheço!

Sua neta primogênita

Lu C.

*em algum dia de 2006

by Lu C.

Lucinha Oliveira
Enviado por Lucinha Oliveira em 14/09/2010
Reeditado em 03/08/2011
Código do texto: T2497962
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