*ASSUMINDO A MATUTEZ!!!

Dotô, a parti d’agora,

Acho qui chegô a vez

De falá pra todo mundo

Sobre a minha matutez,

Ieu, sempre fui grosso e rudo,

Mim criei sem tê instudo

Já tô véi, quaje no fim,

Cá cara cheia de creca

Mulambento feito um Jeca,

Mai gosto de sê anssim.

Minha mão sempre foi grossa

Mode meu trabai pesado

Ieu nunca usei um sapato

Meus caicanhá são rachado,

Lá im casa só tem tráia

Fumo um cigarro de paia,

Minha mió diversão

É incuitá os passirim,

Pois passa longe de mim

O raido e a trelevisão.

A minha casa é de taipa

E o teiado é de capim,

Pro dotô isso num presta

Já pra ieu, nunca foi ruim,

Cumbina quesse meu jeito

E vivo tão sastifeito

Qui lhi inspricá inté posso,

Pois só visito a cidade

Conde há nissidade

De i lá comprá aigum troço.

E conde a tarde insmorece

O sol fraco e sonolento

Drome pur dentraz do monte

Donde faz seu apuzento

Pelas baxada do campo,

Dá pra vê os pirilampo

Piscano dento da mata.

O vento açoita as parmêra

E a lua bela e facêra

Instende o manto de prata.

Aqui conde o dia chega

Adispois qui a noite finda

Dá gosto mode se vê

As paisage tão linda

O sol dourano as campina

Inquanto a branca nebrina

Inxagua a cara da serra

Mostrano toda beleza

E anssim dando mais pureza

As coisa da minha terra.

Aqui vivo assussegado

Pruque nada mi aperreia

As sete da noite eu deito

Me alevanto as quato e meia

Pra vê o quebrá da barra,

E inscuitá a cigarra

Anunciano o verão,

Essa, é a vida qui cunheço,

E sempre a Deus agradeço

Pru sê fio desse chão.

Trabaio de sol a sol

E nunca fico infadado

O meu sustento é do pouco

Qui tiro do meu roçado,

Im Deus, nunca pêico a crença,

Na caima sem disavença

Sem moitim nem cara feia

Vivo im prefeita aimunia

Sem ir na delegacia

Nem nunca entrá na cadeia.

Num tenho inveja daquele

Qui robô pra inrriquecê

E hoje vevi atraz da grade

Pruque feiz pru merecê.

Ieu, num pego num tustão

Mai sô rico meu patrão!

Pois tenho a honestidade

Cuma meta a sê cumprida,

E assim revoo pela vida

Nas asas da liberdade.

Carlos Aires

08/04/2016