LUGAR DE MATUTO... É NO MATO!!! ( causo)

LUGAR DE MATUTO... É NO MATO!!! ( causo)

LUGAR DE MATUTO... É NO MATO!!!

( causo)

Certa vez fui convidado

Por um amigo sacana

Para assistir um concerto

Em um final de semana.

Coloquei meu paletó

E de gravata no gogó

Sapato bem engraxado

Calça culote de brim.

E quem olhasse pra mim

Dizia, é um deputado.

Fomos direto ao teatro

Numa avenida bonita

Foi eu Joca de Gonzaga

Zé Cotó, Mané de Rita,

Joaquim de Bastião Ribeiro,

Luiz de Zuca, Biu Monteiro

E Inácio de Seu Canuto.

Isso fez com que eu pensasse

Essa é uma festa de classe

Num cabe tanto matuto.

Compramos nossos ingressos

Adentramos no recinto

Quase ficamos perdidos

Em meio esse labirinto

Chegamos ao auditório

E esse ambiente notório

Deixou-me logo sem graça

Pois só sou acostumado

Com um forrózinho animado

E regado a muita cachaça

O palco bem enfeitado

Com a cortina encarnada

Um monte de luz piscando

E eu sem entender nada

Ouvindo uma musica lenta

Espirrei cocei a venta

Imaginei to gripado

Senti logo um arrepio

Era alergia a o frio

Do ar condicionado

Olhando para o tablado

Eu estava muito atento

Confesso, não tinha visto

Na vida tanto instrumento

Tinha flautim clarinete

Violoncelo, trompete

Oboé, saxofone

Trompa Flauta e violino

Tuba, Violão. Menino!

Tinha até um xilofone!

Clarins e pratos de choque

Eu vi trombone de varas

Triangulo fagote gongo

Além de outras peças raras

Que eu nem sei qual é o nome.

Não é qualquer passa fome

Que vai numa festa assim.

Eu pensei com meus botões

Que essas tais recepções

Não foram feitas pra mim!

Gosto é de um forró quentinho

Com um sanfoneiro tocando

Um xaxado ou um baião

E a gente tudo dançando

Numa festança animada

Que entra na madrugada

E só nos causa alegria.

Isso sim é festa linda

Começa cedo e só finda

No amanhecer do dia.

Eu tava ali meditando

E quando vi, de repente!

Abriu-se aquela cortina

O palco se encheu de gente.

Todos uniformizados

Com seus gestos refinados

E pra chamar atenção

Na frente um velho arrogante

Todo metido a importante

Com uma varinha na mão.

Meus colegas perguntaram!

E aquilo é um instrumento?

Mas parece uma tabica

Das que nós tange o jumento

Eu disse: “fila da puta”!!

Aquilo é uma batuta

Toma tento tá na cara.

Uma orquestra desse tamanho?

Pra tocar esse rebanho

Tem que ser com aquela vara.

Então todos se arrumaram

Cada um no seu lugar

Logo o velho fez um gesto

E começou balançar

Sua pequena bengala

Foi um barulho na sala

Que a cadeira estremecia

Eu não conhecia aquilo

Fiquei foi muito intranquilo

Só dizendo, Ave Maria!

O velho, o pau balançava

E cada um já sabia

O que devia fazer

E o povo todo aplaudia

Uma música diferente.

Num sei o que o povo sente

Ouvindo aquela zoada.

Sou mais Joaquim de Rufina

Tocando na concertina

Debaixo duma latada.

Olhei para os meus amigos

Eles olharam pra mim

Um deles gritou dizendo

Eita que coisa tão ruim

Eu disse: vamos embora

Eles disseram agora

Que isso é festa pra bacana

Eu gosto mais lá da praça

Que tem o bar da fumaça

Pra gente se encher de cana

E assim saíram dali

Foram beber lá no bar

E sobre o que assistiram

Começaram a conversar

Quando Inácio disse oxente

Eu mesmo não estou contente

E logo esclareço o fato

Posso até tá sendo bruto

Mas pra quem nasceu matuto

Só se sente bem no mato.

Carlos Aires 17/01/2013