RECORDANDO A CASA VELHA!!!
Casa velha no presente
Irei fazer um relato
Porque só na minha mente
Hoje existe o teu retrato
Ninguém te fotografou
E o tempo se encarregou
De eliminar teus traços
Portanto estás destruída
Em tapera reduzida
E não se desfez nossos laços
Aqui!! Casa velha amiga!!
Foi teu reduto imponente
Só a memória hoje abriga
Teu passado e certamente
Pra refazer tua imagem
Eu lembro cada paisagem
Como fosse um relicário
O assunto me interessa
Vou juntar peça por peça
E reconstruir teu canário
Hoje daquele passado
Só restam as recordações
O meu peito amargurado
Transborda de emoções
Ao relembrar quem tu eras
Ora as macabras taperas
Traz-me a remota lembrança
Em forma de cicatriz
De onde eu fui tão feliz
No meu tempo de criança
Cinco esteios seguravam
O teu alpendre imponente
Aonde as prosas rolavam
Quando chegava um parente
Ou mesmo algum visitante
Fosse de perto ou distante
Sempre era bem recebido
Da chegada até a saída
Se ficasse pra dormida
Com prazer era acolhido
Na frente eram duas portas
E também duas janelas
As paisagens hoje mortas
Ainda as vejo tão belas
A sala grande espaçosa
Da maneira mias pomposa
Em suas rudes paredes
Mamãe, para quem chegava
Nos armadores, armava
Pras visitas, várias redes
A esquerda mais uma porta
Que dava para o poente
Cada lembrança me exorta
E faz-me rever novamente
Ao adentrar na direita
Vi a imagem perfeita
Do quarto em que eu dormia
E sinto uma magoa presa
Ao ver tanta tristeza
Aonde reinou a alegria
As recordações do outrora
Causam-me no peito anseio
Estou me lembrando agora
Da velha porta do meio
E pra aumentar minha dor
Lembrei-me do corredor
Cheguei até passar mal
Ao ver naquelas ruínas
Dois quartos: um das meninas
E o outro era do casal
Dá-me um nó na garganta
A saudade me provoca
Ao ver a sala de janta
E o quarto da “muriçoca”
Um rádio numa mesinha
Bem perto uma janelinha
Onde eu ficava contente
Ouvindo musica e cantando
Feliz me deliciando
Sentado no seu batente
A mesa grande estava
Num lugar bem adequado
Ainda lembro que ficava
Um banco de cada lado
Papai com educação
Na hora da refeição
Sentado na cabeceira
Depois que se alimentava
Pra descansar se encostava
No braço da petisqueira
Simplesmente não consigo
Lembrar de tudo que tinha
Mas no relato prossigo
Vou chegando à cozinha
Revejo o velho fogão
E perto dele o pilão
Que citei noutro poema
O cepo a jarra a quartinha
Uma lata com farinha
Deram razões pra meu tema
E assim casa velha amada
Que antes foi meu escudo
Se hoje não és mais nada
Outrora fosse meu tudo
O tempo cruel avança
Lembro quando era criança
E também adolescente
Dos tempos que aqui vivi
Dessa casa onde nasci
Vou lembrar eternamente
Carlos Aires 14/01/2010