SAUDADE DA MINHA VIDA CAMPESTRE...
Hoje acordei com saudade
Da minha vida campestre
No coração do agreste
Onde eu vivia feliz
Quando escutava o concriz
No galho do mulungu
Também ouvia o nhambu
E o canto da codorniz
E o galo de campina
O seu cantar estalava
O sabiá declamava
A sua linda canção
O xexéu e o azulão
Faziam seu improviso
E eu ali indeciso
Aquilo tudo escutava
Parece até que estava
Na porta do paraíso
Inda lembro com saudade
Dos banhos de cachoeira
O angico, a aroeira
A baraúna, o bom-nome
Lá quase que ninguém come
Da vida tão apertada
Mas mesmo sem comer nada
Não morre ninguém de fome
Lá quando a seca castiga
A água desaparece
O sertanejo entristece
Pra Deus faz uma oração
Fala com Frei Damião
Que de Deus é mensageiro
Ou vai até o Juazeiro
Do Padim Ciço Romão
Eu me sentia orgulhoso
De viver ali no mato
Era um sertanejo nato
Tão puro e original
Hoje me sinto tão mal
Morando aqui na cidade
Vivendo só da saudade
Da minha terra natal
O matuto na cidade
Está perdido e sozinho
Fica igual a um passarinho
Que ao cantar, também chora
Porque alguém tão caipora
Com o sentimento mesquinho
Chegou, destruiu seu ninho
Quebrou tudo e foi embora
Se sente tão isolado
Distante da sua enxada
Está sozinho e sem nada
No meio de tanta gente
Acha o caninho diferente
Da avenida pra trilha
Está se sentindo uma ilha
Morando no continente
Carlos Aires
Carpina, 30/10/1996
(81)3622-0948