ESCALANDO NA CAMINHADA

ESCALANDO NA CAMINHADA

 

Eu andei escalando as montanhas,

Quando o sonho virou pesadelo,

Foi então que fugi das entranhas,

Onde estava o meu cerebelo.

 

Na caminhada eu tinha as manhas,

Pois sabia a linguagem do medo,

Com serpentes e cobras tamanhas,

Me engolindo com seus segredos.

 

Em certas vezes me envenenei,

Pois julguei ter carinho o dente,

Mas o certo é que até divaguei,

Na constrição de peçonha ausente.

 

Que abraço danado foi este,

Onde só acordei numa tumba,

Com meu corpo já todo inerte,

E minha alma tocando zabumba.

 

Sempre foi um dilema tão triste,

Conflitar-se com a vida ou morte,

Se a panóplia não fica em riste,

E o brasão não me garante sorte.

 

Sei que venho de anos e eras,

Ou seria semente de um acaso,

E então, vou buscar nas quimeras,

Cada sonho impossível ou caso.

 

Os meus sonhos só se realizam,

Entre brumas que guardam portais,

Onde os monstros ainda agonizam,

Sob um lago profundo e sem cais.

 

É por isso que guardo a canoa,

Que Caronte usará no meu dia,

Pois a terra será minha patroa,

E terá meu esquife e poesia.