DESCASO PELA VIDA E AMAZÔNIA

DESCASO PELA VIDA E AMAZÔNIA

 

Ele foi andando pelo Brasil,

Quando chegou lá no Maranhão,

Atravessando Teresina sem frio,

Pois Caxias e Dutra é sertão.

 

Viu as carnaúbas pela estrada,

Mas também viu açaí e babaçu,

Dançou com os índios na taba,

E beirou pelo norte tão cru.

 

Onde esteve e passou velozmente,

Teve embates com os madeireiros,

E sofreu pela copaíba indigente,

Que não serve nem pra dinheiro.

 

Foi lá que pressentiu nosso fim,

Vendo ser devastada a Amazônia,

E lembrou das terras do sem-fim,

Lendo o Jorge em suas insônias.

 

Porque na mata do sul da Bahia,

o Jequitibá em seu clã agoniza,

Se derrubam o ninho que havia,

E também caçam o bicho preguiça.

 

E esse cheiro forte e putrefato,

Já vigora até entre os compadres,

Por causa de haver o Nosferatu,

Que arbitra sem benção de padres.

 

Também por isso o Maranhão sofre,

Entre ruralistas e más ambições,

Entre os políticos e seus cofres,

Ou o barbeiro que toma corações.

 

Foi assim que ele viveu itinerante,

Em Porto Franco, Açailândia ou mais,

Até mesmo em Imperatriz e adiante,

E nem imaginem o que há por detrás.

 

A dor do povo não vê mais andor,

Se até quem descobre logo morre,

Seja quando é avião ou pobre ator,

Ou um índio que ninguém socorre.

 

São mulas que não levam Dom Pedro,

Mas servem para o deboche da vida,

Porque levam nossa riqueza sem medo,

Enquanto sucumbem na massa falida.

 

E o restante será o nosso túmulo,

Sem cruz e nem com o mausoléu,

Porque terra arrasada é o cúmulo,

De viver sem cumprir seu papel.

 

Deus propôs que cuidassem da casa,

Mas o homem é pior que o cupim,

Pois só sabe ser como a brasa,

Ao queimar minha flor e o jardim.