Bem e Mal: questão de opção

Há quem diga serem relativos os conceitos explícitos e implícitos nas palavras Bem e Mal. Por esta ótica temos que aceitar que o Bem em determinadas épocas e culturas pode perfeitamente ser encarado como o Mal em outras diferentes, e vice-versa. Não por acaso vemos frequentemente algumas nações muçulmanas chamarem os Estados Unidos e a Inglaterra – países majoritariamente cristãos protestantes – de “eixo do Mal”; ou, ao contrário, nações ocidentais pensarem o mesmo das muçulmanas.

Em Salvador, no Dique do Tororó (um dos cartões postais da cidade), existem grandes esculturas representando os orixás – divindades nascidas em religiões africanas e que encontraram na Bahia um considerável número de adeptos. Assim que foram instaladas ali num projeto do Governo do Estado, a partir do trabalho de um reconhecido artista plástico, as esculturas foram alvos de insistentes protestos por parte de algumas religiões evangélicas. Seus seguidores diziam que os orixás nada mais são do que obras do demônio e representações do Mal.

O exemplo mostra mais uma vez que Bem e Mal são apenas pontos de vista. Afinal, os que cultuam os orixás, assim como as divindades indígenas, os vêem como representantes do Bem. Tanto é que eles têm correspondentes nos santos católicos, mesmo sem o reconhecimento oficial do Vaticano. Quem está com a verdade? Nenhum dos lados, já que cada um deles apresenta inúmeros argumentos convincentes para defender suas respectivas crenças.

Nas guerras e em muitas ideologias políticas e/ou religiosas os aliados são sempre o Bem e os adversários e inimigos, o Mal. Isto é, no mínimo, suspeito e está muito longe de trazer à tona o que poderia ser chamado de essência destas duas formas de opções/ações morais e espirituais.

Longe desse tipo de debate sem vencedores e vencidos, ninguém pode negar que exista, de fato, o Bem e o Mal. A opção por um ou por outro tem a ver com os rumos que cada indivíduo dá para a sua própria vida. Alguém que leva às últimas consequências a satisfação dos próprios interesses – a ponto de matar, roubar ou passar por cima do outro, faz uma nítida escolha pelo Mal. Não dá para classificar de Bem aquele bem que alguém faz a si próprio às custas da ruína de terceiros.

Parece uma explicação que beira o simplório, mas realmente é muito simples visualizar a bondade e a maldade no comportamento das pessoas. O que não é simples é separar realidade e visão ideológica nesta equação. Um homem-bomba, que aceita matar inúmeros inocentes em nome de Deus e de uma causa qualquer, pode ser encarado como um agente do Bem? Mesmo para um ateu, que não pauta a sua vida em valores religiosos, seria difícil encontrar qualquer traço de bondade em alguém assim.

Dentro da imperfeição humana, que já traz as falhas embutidas em sua própria constituição, é totalmente possível escolher um dos dois caminhos. Dá até para mudar de opção ao longo da vida – o que muitos fazem para o Bem ou para o Mal. O que é difícil aceitar é que um seja tomado e apresentado como se fosse o outro.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 18/05/2008
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