Nossos anjos da guarda
Existe uma teoria defendida por estudiosos antroposóficos de que o verdadeiro Anjo da Guarda é uma entidade abstrata que existe em cada um de nós e pode ser identificada como nosso “Eu Superior”. Para quem nunca ouviu falar, a Antroposofia é uma corrente de idéias que parte de aspectos essencialmente espirituais para buscar o conhecimento do ser humano e do universo.
Trazida para o Brasil no início do século 20 pelo austríaco Rudolf Steiner, a Antroposofia se interessa por tudo que diz respeito à natureza humana, podendo ser aplicada em praticamente todas as áreas da vida. Uma delas é a educação, praticada a partir da Pedagogia Waldorf, que trabalha o ser humano em sua totalidade, explorando principalmente a sua potencialidade criativa. São 800 escolas espalhadas no mundo inteiro – pelo menos duas dezenas delas aqui no país.
De acordo com a visão antroposófica do Anjo da Guarda como “Eu Superior”, fomos presenteados com a capacidade de discernimento sobre o certo e o errado, o bem e o mal – sem levar em conta se a origem desses conceitos é religiosa ou moral. É como se existisse escondida em nós uma espécie de sábio capaz de nos orientar em todas as nossas escolhas. O grande desafio a ser enfrentado ao longo da vida é encontrar as formas adequadas de acioná-lo. A oração é uma delas. A concentração e a mentalização elevadas a Deus seriam maneiras de chegar até este anjo interior.
Os estudiosos do assunto ressaltam que nessa busca temos que nos equilibrar entre as chamadas forças luciféricas e arimânicas – uma pendendo para o afastamento do mundo material e a outra querendo nos restringir a ele. Quando tais forças chegam aos nossos pensamentos elas entram em processo de enfrentamento, normalmente se anulando nesse embate equilibrado. Surge nesta anulação a liberdade de pensamento, a liberdade de escolha. Quando não cuidamos devidamente desta liberdade, acabamos arrastados para um dos lados.
Partindo-se desse princípio, dá para entender por que todos aqueles que têm suas vontades encobertas por quaisquer vícios, principalmente os que entorpecem a mente e o espírito, dificilmente conseguem escolher os caminhos a seguir. Não que estas pessoas tenham sido abandonadas pelos seus anjos da guarda – que continuam no mesmo lugar, prontos para ser acionados. Simplesmente foram impossibilitadas de atravessar o túnel que leva até eles.
Toda essa teoria não é uma negação do que aprendemos tradicionalmente sobre anjos da guarda – os guardiões divinos designados para nos proteger. É tão-somente um simbolismo do potencial do nosso próprio espírito. Se pudermos imaginar que temos um sábio dentro de nós capaz de dar respostas sensatas às nossas perguntas, teremos chances bem maiores de escolher por onde ir. Como diz um amigo adepto da Antroposofia: “rezemos ao nosso Anjo da Guarda; rezemos a nós mesmos”.