A cenoura na frente do burro

Vivemos tempos em que o TER se tornou senhor absoluto das vontades e atos humanos, fazendo do SER um mero sonho periférico de idealistas por vocação. No geral, o comportamento das pessoas parece convergir para a fome insaciável de tudo aquilo que o dinheiro pode comprar. E até que se prove o contrário, todos os indícios apontam para a triste constatação de que o dinheiro pode comprar tudo: dignidade, fidelidade, atenção, honra e até amor.

Alguém pode retrucar: o dinheiro não compra o amor verdadeiro. O problema é que na era do TER nada precisa necessariamente ser verdadeiro. Afinal, posição social de destaque, embalada com roupas caras e maquiagens finas, é o bastante para abrir as principais portas por onde deseja entrar a maioria. Fica mais difícil se perceber isso num país que ainda abriga dezenas de milhões de miseráveis, como o Brasil. Nesta camada da população é até compreensível que o TER seja sempre o prato do dia, principalmente quando se trata de um prato vazio.

Em se tratando dos principais rumos que norteiam as escolhas humanas, não são os pobres que ditam as regras. As classes média e alta serão sempre as responsáveis por delinear os valores que conduzirão as suas vidas e, por tabela, a das classes mais baixas. Se um casal de classe média, por exemplo, educa seus filhos para que sejam vencedores a qualquer custo, não poderá se lastimar mais tarde se o filho vir a se tornar um profissional desonesto ou a filha universitária, uma garota de programa. Há uma diferença essencial entre ser vencedor por um critério de vitória baseado no SER e outro, no TER.

Conhecido escritor e palestrante na área de recursos humanos, Roberto Shinyashiki escreveu o seguinte num de seus artigos: “as pessoas vêem o sucesso como uma miragem, como aquela história da cenoura pendurada na frente do burro, que nunca a alcança. As pessoas visualizam metas e, quando as realizam, descobrem que elas não trouxeram felicidade. Então, continuam avançando e inventam outras metas que também não as tornam felizes. Vivem esperando o dia em que alcançarão algo que as deixará felizes. Elas esquecem que a felicidade é construída todos os dias”.

A cenoura na frente do burro é a eterna sedução que faz pessoas matarem e morrerem pelos motivos mais banais. Esta foi a pior marca deixada pelo século 20, e que continua forte neste novo milênio. Sem qualquer sentido figurado, muitos de nós somos os únicos responsáveis por termos nos tornado burros que se movem em busca de cenouras que nunca vão alcançar.

Felizmente, existem correntes que ainda acreditam na possibilidade do ser humano continuar querendo SER HUMANO. São aqueles que diferenciam homem de calculadora e têm a ética como bússola a apontar para o norte do amor, da justiça e da solidariedade.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 10/05/2008
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