A novíssima música de Minas
Talvez muitos músicos mineiros das novas gerações até nem gostem de carregar a bandeira que estampa a turma do Clube da Esquina como o grande expoente de Minas nesta área. De fato, nem tudo de bom na música produzida na terra de Ataulfo Alves e Ary Barroso pode ser reduzido à trupe de Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, Toninho Horta e cia., embora seja inevitável tê-los sempre como uma referência à parte quando o assunto é pop/rock de primeiríssima. Nem poderia ser diferente: esse movimento que estourou nos anos 70 extrapolou as fronteiras das Gerais e do Brasil e se tornou muito cobiçado lá fora.
No entanto, a Minas pós Clube da Esquina trouxe bem mais do que Skank, Jota Quest e Pato Fu – os três maiores em projeção nacional nos últimos tempos. Comendo quietos e pelas beiradas, como já ficaram caracterizados os mineiros, há por aí uma leva de excelentes compositores, intérpretes e instrumentistas, que, aos poucos, vêm transitando por casas de espetáculos de Belo Horizonte, Rio e São Paulo, sem falar na participação de festivais de inverno no interior do estado ou no circuito dos festivais de música em várias cidades do país.
São tantos nomes que ainda que eu mencionasse os que me vêm à lembrança certamente ficariam vários de fora. Estas pessoas estão se reunindo e se divulgando, gravando CDs, formando cooperativas de músicos, fazendo participações nos trabalhos uns dos outros e, principalmente, organizando-se para abrir espaço nesse mercado de cartas marcadas com seus produtos independentes.
Um bom exemplo de como isso se dá na capital mineira foi o projeto “Reciclo Geral - Mostra de Composições Inéditas”, de 2002, que aconteceu no Bar Reciclo. Por ali passaram os compositores Rodrigo Torino, Miguelângelo, Rosa Maria e Tomnáz, com participação especial do cantor e compositor Vander Lee. Eles, entre outros, vêm seguindo os passos do próprio Lee, que é um verdadeiro expoente dessa vanguarda musical mineira, ao lado de Maurício Tizumba, Alda Rezende, Renato Negrão, Sérgio Pererê, etc.
Para os que ainda não conhecem, Vander Lee é um daqueles talentos que podem ser reconhecidos na primeira audição. O seu segundo CD (“No balanço do balaio”), por exemplo, é um passeio confortável a bordo de uma MPB inventiva, digna de seus representantes mais significativos. Em sua trajetória constam prêmios no Festival de Música de Avaré-SP em 1989 e no Canta Minas (da Rede Globo Minas) em 1996. A sambista Elza Soares deu o impulso que faltava ao apresentá-lo à imprensa e a seu público, elegendo-o “suingue do ano 2000” e dividindo com ele o palco em shows em Belo Horizonte, Rio, Salvador e São Paulo. Neste trabalho vale uma atenção especial para as belíssimas baladas “Quem me dirá?”, “Românticos”, “Fogo” e “Quando chove”.
A novíssima música de Minas, que tem ainda nomes de grande valor, como os cantores e compositores Makely Ka e Aline Calixto, ainda vai aparecer em bloco no cenário nacional e, quiçá, deixar suas marcas como o Clube da Esquina. Bom senso é ainda uma forma de esperança mais acessível do que as profecias dos poucos afortunados.