Dominó gigante enfileirado
Alguém ainda duvida que caminhamos a passos largos para o dia em que o destino de cada habitante do planeta estará diretamente atrelado um ao outro? É aquela velha história de que até o bater de asas de uma borboleta num extremo do mundo pode iniciar uma reação em cadeia que culmine em tempestade no outro extremo. Comunicações, economias, decisões políticas isoladas, tudo cada vez mais se estreita e se amarra, fazendo com que a humanidade seja vista como nunca por um prisma realmente global.
Seja o mega susto planetário causado em 11 de setembro de 2001 pelo atentado terrorista aos Estados Unidos, seja a interminável guerra entre judeus e palestinos ou uma crise econômica na Argentina, tudo é motivo para especulações, inflações e inseguranças. A verdade é que cada nação, cada um de seus habitantes, é uma peça de um dominó gigante, que em si pode até ser muito resistente, mas enfileirado se torna fácil de ser derrubado.
Todos os tetos daqui para frente serão de vidro e nada mais escapa de ser alvo do que quer que seja. Pouco a pouco vão sendo retirados os tapetes que escondiam os lixos que não eram expostos nas ruas. Em seu lugar satélites, câmeras de vídeos e microfones escondidos monitoram até mesmo quem os concebeu com a intenção de espionar. O clima de medo que tudo isso tem gerado é apenas um dos pontos de partida para que as pessoas construam, por livre e espontânea vontade, suas próprias celas de segurança máxima – que nem assim são tão seguras.
Não precisamos sequer sair do país ou saber pela TV o que se passa. Se queremos entender porque nossa sorte hoje depende tanto de todos basta andarmos pelas ruas de nossas próprias cidades. Basta que observemos um pouco que seja como vivem muitos dos cidadãos que dividem ruas e calçadas com cada um de nós. O que eles têm em suas casas, o que fazem para sobreviver, para dar a suas famílias alguma dignidade e uma perspectiva diferente de futuro, melhor do que seu passado, seu presente?
Não se trata de achar culpados. Nem mesmo apontar o dedo para os sucessivos governantes que poderiam ter feito algo um dia, e não fizeram. De qualquer forma, nossa sorte depende de todos, e não adianta tentar achar desculpas para tirar o corpo fora. Afinal, se o sucesso de uns significar o fracasso de outros, então o fracasso terá sido geral. Talvez até nossa cidade, nosso estado, nosso país não sejam os mais castigados socialmente, se comparados a inúmeros outros lugares onde a miséria reina absoluta. Mas estão longe de se posicionar entre os que alcançaram o topo de uma boa qualidade de vida de seus habitantes.
Ricos ou pobres, bem sucedidos ou fracassados, todos fazemos parte desse grande dominó enfileirado. Isso é irreversível. Não há como escapar das consequências das desigualdades sociais, do abismo que separa o caviar do pão velho. Quem nada tem, nada tem a perder; de tudo é capaz para ter. A partir daí os problemas mudam apenas de dimensão: sai do batedor de carteira que deseja algum para comprar drogas e vai até uma nação que domina outra por incalculáveis interesses econômicos. O problema, ao menos, é simples de se entender.