Prazer em aprender

Estar numa sala de professores, no intervalo das aulas, em meio a cafezinhos e biscoitos, é ter a oportunidade de ouvir as mais diversas lamentações sobre os baixos salários e sobre a indisciplina e desinteresse dos alunos. Tanto faz se a escola é pública ou privada. O que se percebe, de um lado, é a constatação dessas verdades quase unânimes aos que têm experiência no magistério; do outro temos uma geração de estudantes que vem desenvolvendo uma outra percepção do mundo e de si mesma e que não consegue se adaptar aos modelos mais tradicionais de ensino.

Nessa encruzilhada entre o velho e o novo, entre o que pode ou não ser mudado, o professor é obrigado a um mergulho profundo em suas próprias concepções acerca de seu papel enquanto educador. O problema é que não há pausa para tal constatação, levando-o a vivenciá-la “na pele” e no seu cotidiano à frente de turmas, turnos e escolas variados, num verdadeiro coquetel perturbador de erros e acertos.

Como ter a atenção dos alunos sem ser enfadonho ou autoritário? Como ganhar o respeito deles sendo mais liberal e tolerante? Como apresentar novidades e conseguir que a turma as aceite sem prejuízo do conteúdo a ser ministrado? Como mudar o jeito de lecionar sem que se encontrem outras perspectivas neste sentido? Eis algumas questões que rondam ou já rondaram a cabeça de qualquer profissional da área.

Sou parte integrante dessas dúvidas, principalmente depois de ter transitado pelos ensinos Fundamental e Médio, estando agora no Superior. Em 1990, quando encarei por um bimestre uma turma regular do antigo 2o Grau de uma mega-escola pública de Salvador, durante meu estágio na faculdade, nem sonhava quais rumos daria à minha profissão de licenciado em Filosofia. Primeiro porque as variadas teorias pedagógicas, tão frescas à época, não pareciam se encaixar em nada do que eu via “in loco”; segundo porque a própria Filosofia era muito mais alienígena nos currículos escolares do que é hoje. Quase 18 anos depois daquilo, a única certeza que permanece viva em mim é a de que eu gosto de ser educador e que as minhas próprias experiências me deram os parâmetros para questionar esse terreno em que tantos pisam, mas que poucos sabem onde estão pisando.

Nos muitos momentos em que saí da sala de aula feliz e com a sensação de que havia acertado, estão aqueles em que percebi que os alunos perseguem algum tipo de prazer em aprender. Provavelmente nem mesmo saibam teorizar o que seria uma aula prazerosa, mas sabem identificá-la quando têm uma. Há algum tempo tive conhecimento de um método de ensino desenvolvido na Alemanha e já aplicado no Brasil que abraça exatamente a idéia do prazer em aprender. Trata-se da Pedagogia Waldorf, que chegou ao país em 1956 através do Colégio Rudolf Steiner, em São Paulo, à época mais voltado para a colônia alemã.

Hoje essa pedagogia se estende para outras escolas do país e tem sido aplicada, inclusive, em uma favela do Rio com resultados surpreendentes. A autora da iniciativa é uma educadora alemã de 50 anos chamada Renate Keller Ignácio e a beneficiada, a favela Monte Azul. Ela, que estudou desde o jardim de infância (Educação Infantil) até o curso superior em Educação Artística na Alemanha, seguindo os ensinamentos Waldorf, montou cursos regulares em centros daquela comunidade, nos quais os alunos realizam trabalhos artísticos nas áreas de teatro, música, dança, desenho e pintura. Os mais velhos fazem cursos profissionalizantes de marcenaria, padaria, entre outros.

Algumas escolas de classe média do Rio e de São Paulo que optaram por este método de ensino têm em comum o fato de não terem donos. Como são administradas por pais que se uniram por acreditar na mesma pedagogia, elas têm currículos mais flexíveis e primam pelo desenvolvimento integral do estudante. As aulas convencionais de Matemática, Português, Física e História são mescladas com música, teatro, tecelagem, pintura e escultura. Mais do que se preocupar com a capacidade de raciocínio e o acúmulo de conhecimentos dos participantes, a Pedagogia Waldorf pretende lidar com a sua aprendizagem emocional e espiritual.

Os resultados disso são jovens mais criativos e confiantes em si mesmos, capazes não apenas de passar no Vestibular, como também de se tornarem adultos íntegros e profissionais multifacetados – aptos a desenvolverem atividades diversas, às quais certamente se dedicarão com mais seriedade e, claro, com prazer.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 07/05/2008
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