Em busca da resiliência
Embora qualquer pessoa seja capaz de superar as adversidades ao longo da vida, há algumas que fazem isto de uma maneira especial, quase heróica. Este assunto vem despertando o interesse de especialistas em comportamento do mundo todo.
O nome dado a essa capacidade de resistir e de crescer em meio a sucessivos problemas vem da física e praticamente não era usado em outras áreas até bem pouco tempo. Trata-se da resiliência, que é “a propriedade que alguns materiais apresentam de voltar ao normal depois de submetidos à máxima tensão”. É o caso das fibras de um tapete de nylon, que recuperam a forma assim que acabam de ser pisadas e amassadas.
Psicólogos que estudam o comportamento de pessoas oriundas de comunidades atingidas por enchentes, terremotos, perseguições raciais, violência e guerras perceberam que, entre elas, algumas se saem bem e outras, não. Segundo os especialistas, até a década de 1990 esta habilidade para lidar com os problemas era uma espécie de dom que certos indivíduos já traziam ao nascer. Outros estudos, porém, apontaram que a resiliência pode ser construída e que é na infância a melhor fase para alicerçá-la.
A grosso modo, é como se cada obstáculo vencido na vida “vacinasse” o indivíduo para o próximo. Por esta ótica dá para compreender melhor a teoria que defende a possibilidade de qualquer um ser um resiliente em potencial. Com base nela, em setembro de 2003 – dois anos após o ataque terrorista aos Estados Unidos – foram distribuídas nas escolas de Nova York dois milhões de cartilhas destinadas às crianças entre 8 e 11 anos. O objetivo: dar a elas instrumentos básicos para que possam ter resistência na passagem para a vida adulta. A decisão de utilizar tais recursos veio de psicólogos que confirmaram a eficácia da intervenção social adotada com os filhos das vítimas do atentado às torres gêmeas.
Assim que tive contato com o tema, há algum tempo, identifiquei-me de imediato com a sua essência. Longe de ser uma vítima dos trágicos infortúnios que motivaram tal estudo, considero-me, ao menos, uma pessoa em busca da resiliência. Vivemos tempos difíceis em que os problemas de fundo emocional parecem não poupar ninguém. Se deixar abater e fazer da própria existência um muro de lamentações é uma idéia que me desagrada profundamente. Assim, prefiro acreditar que os obstáculos existem não para barrar a nossa caminhada, mas para nos lembrar que vencer significa estar também preparado para certos sacrifícios e para muitos testes de resistência e determinação.
Não é nada fácil ser um resiliente, mas os especialistas dão algumas dicas que podem ser um ponto de partida. Uma delas diz respeito à primeira reação que se deve ter no instante em que surge a crise. É importante formular uma explicação para o que está ocorrendo, analisar as circunstâncias, a sequência dos fatos e as razões da adversidade. Paralelo a isso, tentar entender os próprios sentimentos em relação ao processo como um todo.
O passo seguinte é pensar nas possíveis estratégias do que fazer ao sair da crise. Afinal, projetar-se no futuro é sempre uma boa saída para suportar a dor do momento. Mas é fundamental ter em mente que é no presente que a mudança acontece. Assim como é essencial não depositar nos outros a tarefa de salvador da pátria. Estabelecer laços com pessoas que podem representar coragem e estímulo é uma coisa, mas deve ser de cada um a responsabilidade de se resgatar do fundo do poço.
Vale a pena ainda valorizar as pequenas vitórias, pois isso traz auto-confiança e serve de impulso para se tentar chegar a outras. Por fim, o verdadeiro resiliente não pensa apenas em si, mas nos que vão se beneficiar com as suas conquistas ou tomá-las como exemplo. No mais, é pagar para ver.