Passado em alta frequência
Todos nós, em algum momento da vida, já sentimos vontade de poder (re)ver ou (re)viver o passado. Imaginem o que deve ser a possibilidade de testemunhar fatos que sabemos apenas através dos livros. Ou que friozinho na barriga não teríamos se pudéssemos nos deparar com nós mesmos: o “eu” do presente frente a frente com o “eu” do passado. Ficção ou potencial realidade, o que não dá para esconder é o nosso fascínio pelo deus-tempo.
No final da década de 1970 (finalzinho da minha infância) eu tinha no seriado de TV “Túnel do Tempo” as minhas melhores aulas de história. Dois agentes bem treinados e monitorados por uma base de cientistas faziam as viagens de volta aos fatos mais marcantes da história da humanidade. Embora não coubesse a eles interferir em nada, isso não conseguia ser seguido à risca, pois ambos eram sempre obrigados a se envolver nos episódios que deveriam apenas observar.
Da mesma época, o brasileiríssimo Sítio do Pica-Pau Amarelo, da Rede Globo, também mantinha as idas e vindas no tempo, através da palavrinha mágica “Pirlimpimpim” – uma espécie de passaporte irrestrito dependente única e exclusivamente da imaginação. Seja na Grécia conversando com filósofos e divindades, ou na Roma antiga dos Césares, Pedrinho, Narizinho, Emília, Visconde, Dona Benta e outros da turma faziam a ponte entre passado e presente como se estivessem indo ali no bucólico Arraial dos Tucanos.
O tema também foi levado à telona na década de 1990 em algumas produções memoráveis, como a trilogia “De Volta para o Futuro”, “O Exterminador do Futuro” e “Os Doze Macacos”. Em todos eles a volta ao passado se dá numa clara tentativa de reverter acontecimentos nefastos constatados no futuro. As tramas bem amarradas, mescladas de ação do princípio ao fim, é o que se pode chamar de ficções verossímeis – aquelas dotadas de enredos convincentes, sem exageros fora de lugar.
Mas se o cinema é insuperável na abordagem desse tipo de assunto, a literatura também tem o seu lugar. E eu não poderia falar de viagens no tempo sem falar na obra “Operação Cavalo de Tróia”, do espanhol J. J. Benitez, com seus (até o momento) oito volumes e mais de quatro mil páginas. Apresentado como uma transcrição verídica do diário de um major da Força Aérea norte-americana sobre uma experiência de recuo no tempo, vivida em missão secreta na década de 70, o livro é fantástico tanto do ponto de vista ficcional-científico quanto histórico, esotérico e religioso.
Benitez conta que a Operação Cavalo de Tróia teria realmente acontecido depois que cientistas da Força Aérea teriam descoberto as “chaves” para os saltos no tempo. Ele, como escritor de livros de temáticas similares, teria sido escolhido pelo médico militar que vivenciou a experiência de retornar à época de Jesus para publicar, após a sua morte, uma cópia do que seria o seu “diário de bordo”. Do nascimento à Paixão de Cristo, tudo é testemunhado e registrado por dois homens céticos do século 20, em páginas e páginas de uma história fascinante.
O filme que motivou o título deste texto é o “Alta Frequência”, lançado em 2000. Estrelado por Dennis Quaid e Jim Caviezel, ele se passa em dois períodos: 1969 e 1999. A trama gira em torno do policial John Sullivan – um homem de pouco mais de 35 anos que mora na mesma casa onde nasceu e ainda vive atormentado pela falta do pai (Frank Sullivan), um bombeiro que morreu num resgate três décadas antes. Em meio a um raro fenômeno chamado de “aurora boreal” (uma tempestade solar), John encontra e liga o rádio amador de Frank; para seu espanto, é exatamente com ele sua primeira comunicação. Diante de algo inexplicável, ele começa a falar com o próprio pai no passado e tem a possibilidade de mudar todo o rumo da vida dele e da sua própria.
O leitor não precisa se preocupar, pois não contei nada que possa afetar o prazer de assistir ao desenrolar desse enredo super bem “costurado”. Nem, muito menos, mencionei detalhes do filme que nos fazem olhar pra nossa própria vida no sentido de sabermos o que a mudaríamos se tivéssemos a chance de mexer os pauzinhos numa época não mais existente (?).