O futuro na ficção
Em uma de suas mais belas músicas, o cantor e compositor Renato Russo deixou registrada uma frase que, certamente, sintetiza o pensamento de muitos que chegaram ao rterceiro milênio como se tivessem aportado no futuro. O saudoso vocalista da Legião Urbana diz em Índios que “o futuro não é mais como era antigamente”... Para quem teve a infância na década de 70, como eu, o futuro parecia muito distante e prometia chegar como uma saída para os problemas que existiam que, na minha cabeça de criança, não eram tantos assim. É claro que o país vivia na época sob um regime militar e a liberdade era completamente vigiada, sem falar que o mundo também registrava o auge de uma guerra fria entre a antiga URSS e os Estados Unidos. Mas é certo que as coisas não aconteciam com a velocidade deste fim de milênio!
Se for mesmo verdade que a vida imita a arte, então as previsões para o futuro nas obras de ficção são de arrepiar qualquer um no presente. Alguns filmes lançados de meados da década de 80 até hoje traduzem bem esse espírito pessimista e sombrio com relação aos destinos da humanidade, principalmente quando se trata de uma suposta guerra entre homem e máquina. “Blade Runner – O Caçador de Andróides” é, talvez, uma das obras cinematográficas que mais bem abordam essa temática. Nesse filme, o planeta vive sob as piores condições possíveis e só abriga a escória da raça humana que não conseguiu ser aceita nas novas colônias construídas no espaço. A trama acontece a partir da fuga de alguns replicantes (andróides idênticos ao homem, com tempo de vida programado), que voltam à Terra para tentar encontrar a pessoa que os criou e reivindicar com ela mais tempo de vida. Nessa guerra homem versus máquina, não há vencidos ou vencedores! Existem apenas perguntas e tentativas de respostas, e nem sempre o ser humano consegue defender tão bem, como os andróides, a liberdade e a vida.
Em filmes como “O Exterminador do Futuro” e “Os Doze Macacos” é o futuro que volta ao passado para consertar erros que tiveram consequências catastróficas para os habitantes do planeta. Também em “O Vingador do Futuro” e “O Quinto Elemento”, o homem vive em cidades futuristas cercado de tecnologias, porém em meio a um verdadeiro caos urbano. O controle da mente e as ameaças alienígenas completam o quadro tétrico que permeia os enredos de cada um deles.
Filmes como os citados estão longe de merecer a classificação de lixo! Ao contrário de muitos outros do gênero encontrados em qualquer locadora de vídeo, eles têm um bom enredo e a ficção abordada traz uma grande dose de possibilidades verossímeis no mundo real.
Nesse sentido, o filme Matrix é um novo marco dos filmes que envolvem previsões sobre o futuro, guerra entre homem e máquina e realidade virtual. É bom que eu deixe claro que não sou garoto-propaganda do mega estúdio hollyoodiano que o criou, nem de qualquer locadora da cidade. Mas como aficionado por cinema, só me resta recomendá-lo após tê-lo assistido cinco vezes, três das quais no mesmo final de semana. Na trilogia “Matrix” o próprio enredo mistura realidade e ficção como se ambas fossem peças complementares do mesmo quebra-cabeça. Nele o ser humano vive aprisionado num tempo e num espaço inexistentes. A Inteligência Artificial, sua criação, agora é quem dá as cartas, personificada num programa chamado Matrix. Máquinas recriaram o mundo destruído pelo próprio homem, que passa a ser cultivado para servir de fonte de energia para elas. Todos os habitantes da Terra carregam em seus cérebros um programa de computador que os faz viver uma vida que, na verdade, nunca existiu.
A resistência a isso fica por conta daqueles que conseguiram escapar desse mundo virtual e tentam resgatar a supremacia da raça humana. No filme, um novo messias é esperado para comandar esse resgate. Por sua vez, defensores da vilã Matrix têm também seu momento de “lucidez”, ao descarregarem nos humanos todas as acusações pela degradação que um dia eles provocaram no mundo. Eis uma delas: (...) “Vocês humanos não são mamíferos. Todos os mamíferos do planeta instintivamente entram em equilíbrio com o meio ambiente. Os humanos vão para uma área e se multiplicam até consumir todos os recursos naturais. Há um outro organismo que segue o mesmo padrão: um vírus (...)”