PANORAMA FINANCEIRO

Parece que estamos escapando da ameaça de quebradeira do sistema financeiro internacional decorrente de créditos de risco e de aplicações especulativas nas chamadas “subprimes”. Estivemos à beira, quem sabe, de uma depressão como a de 1929, quando as ações das companhias viraram pó , o dinheiro escasseou e estancou o progresso. Desta feita, porém, os governos e os bancos centrais norte-americano e europeu foram expeditos ao aportar liquidez aos mercados, evitando a bancarrota de grandes instituições financeiras, que não sobreviveriam a uma desabalada corrida bancária. Grandes capitais do mundo árabe, sobretudo, foram angariados para conferir substância e resistência a poderosas organizações de crédito, de amplitude mundial, que amargaram prejuízos bilionários em dólares e euros. Ainda não se tem uma noção exata do tamanho do rombo provocado por esses créditos imobiliários mal deferidos nos Estados Unidos da América e negociados mundo afora, mas a crise gerada é assustadora. O interessante é que, no Brasil, as instituições de crédito vivem momento de relativo esplendor, ainda que não sejam naturalmente imunes a uma crise tão vasta e aguda. Costuma-se criticar, aqui, a fiscalização da Autoridade Monetária, a interferência estatal, mas, em vista do ocorrido nos grandes centros financeiros mundiais, é imperioso rever conceitos e prestigiar nossos mecanismos de controle. Lá fora, afinal, não são tão eficientes assim. Foi o que começou a ser feito nos maiores centros do capitalismo, que vicejavam ao influxo das ideias ultraliberais do livre mercado, desde os tempos Regan e Tatcher, que preconizavam o fim da interferência estatal (desregulamentação da economia), como se o Estado não representasse o povo juridicamente organizado. Aconteceu, então, o previsto: estatização, como a do Citibank, por exemplo, para evitar a quebra, a corrida bancária e o caos dos capitalistas enlouquecidos.

O "Estado" da chamada economia de livre mercado, ou seja, o povo, acabou tendo de bancar um gigantesco estouro, fruto da sacanagem financeira e do enriquecimento especulativo de uma minoria de espertos e irresponsáveis, sob fiscalização fajuta. Apesar do crescimento atual de nossa economia - talvez mais aparente do que real -, o país não é uma ilha – longe disso. Ademais, a facilidade na concessão de créditos – crédito consignado, inclusive para aposentados, financiamentos de veículos e de imóveis – deve despertar atenção para desdobramentos futuros, porque foi na euforia que se forjou a bolha imobiliária norte-americana, com suas catastróficas conseqüências nos recentes balanços bancários trimestrais e no espectro da recessão econômica que assombra o mundo.

Antigamente, dizia-se: “quem compra terra, não erra”. Com juros altos e problemas eventuais de liquidez, essa convicção de nossos antepassados adquiriu sentido bem relativo, além de configurar, em dadas circunstâncias, posição conservadora numa perspectiva de desenvolvimento econômico que anima investimentos empresariais e maior fluidez do dinheiro. Mesmo assim, em face de tantas incertezas, a lição continua válida para o poupador comum. De qualquer modo, seja em imóveis, em ações ou títulos, aplicar recursos no Brasil ficou temporariamente interessante para quem pode. Por enquanto e com modos. Não é simples prever o amanhã.

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 21/04/2008
Reeditado em 26/06/2017
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