PROTESTANTISMO: UMA AVALIAÇÃO LEIGO-SOCIOLÓGICA

Estou à vontade. Não sou religioso. Nem tenho a crença formal, inclusive de não religiosos, num Deus instituído. Batizado na terra,pela carência humana de um Pai Maior nas grandes aflições e pelo temor do insondável, que tem início na morte física.

Todas ascrenças e manifestações públicas de fé têm meu respeito. Quandoi me refiro à instituição e batismo de um Deus, pelo homem, não o faço com menosprezo. É minha opinião, passível de mudança, porque sei que não sei de nada, e até o momento sei que ninguém sabe. Ou acho que não.

Não sou um ateu instituído como até então considero a a fé religiosa. Por isso o até então. Nunca fui arrogante o suficiente para dizer que nada ou ninguém jamais me fará mudar de postura e pensamento. Prefiro ser, como disse Raul Seixas, uma metamorfose ambulante a ter uma velha opinião formada sobre todas as coisas, em especial as que estão acima do nosso entendimento.

Mas meu intróito meio confuso não quer falar exatamente da fé ou do comportamento humano sobre o insondável. Quero tecer considerações "imparcialmente parciais" sobre os méritos de uma facção religiosa que abalou recentemente a soberania da instituiçãocatólica noi Brasil e em pelo menos boa parte do mundo ocidental. Ao mesmo tempo, despertou os evangélicos; levantou seus egos; ergueu sua autoestima e fê-los da sombra, da timidez e do ostracismo para gritar em alto e bom som que são sim, evangélicos. Especialmente os pentecostais, que depois dos umbandistas e afins, eram os mais discriminados em um país que é colônia religiosa da Europa e em menor parte da América do Norte.

Esqueçamos as acusações decorrupção que pesam sobre o bispo Edir Macedo e alguns de seus ungidos,como também pesam essas e outras acusações (entre elas a de pedofilia) sobre os líderes das demais correntes, para reconhecermos o mérito libertário da Igreja Universal do Reino de Deus. Esse mérito libertário é no que tange o social, na visãode quem descarta o caráter espiritual de qualquer questão, como

pessoa não espiritualizada.

A história de busca da salvação da alma, pelo homem, é muito antiga para se inserir nesta avaliação leigo-sociológica de quem nada sabe. Mas posso dizer que a história moderna do protestantismo, em especial no Brasil se divide em antes e depois da IURD. Foi depois de seu surgimento, com todos os vícios e excessos humanos, que os evangélicos de todas as correntes ergueram as cabeças e mostraram as caras, gritando para a sociedade o que já não os constrange ou pelo que já não temem. Antes não era assim: O cristianismo protestante se comportava, nos países de tradição católica, como religião da clandestinidade. Manifestação pirata.

Com toda essa revolução, até mesmo a igreja católica teve que reagir, aceitando mudar visões, comportamentos e discursos. Pentecostalizou-se até, para recuperar uma parte dos milhares de fiéis que migraram imediatamente para a IURD, outras denominações que surgiram ou ressuscitaram graças a essa revolução, bem como para as tradicionais igrejas evangélicas a a partir daí renovadas também nos cultos, discursos e comportamentos perante uma fé pública sobressaltada e disposta a rever os seus valores.

Com ou sem razão (esses méritos não discuto), trata-se agora de uma igreja perseguida pelas demais, como são perseguidas as religiões ou seitas de raízes africanas, que ela também persegue implacavelmente, porque essas sempre serão um desafio, pela força de sua história. Pelo seu legado inquestionável que permeia todas as fés, mesmo noi silêncio que a sociedade lhes impõe por força do preconceito muito mais étnico ou racial do que propriamente religioso. Talvez fosse o caso de surgir uma versão afro-religiosa da IURD para dar solução a esse ostracismo que aleija nossas orígens. Renega nossa cultura e quebra o nosso berço.

Seja como for, é impossível negar que graças à iniciativa bem ou mal intencionada de um novo líder revolucionário da fé, temos hoje uma igreja brasileira infiltrada no mundo; disputando o mercado sócio-político-religioso que o mundo moderno fecha acirradamente para novas tendências mundiais. Uma igreja que enfrenta quase em pé-de-igualdade, nos países emergentes e menos desenvolvidos o poder imposto pela velha Roma e pela América do Norte.

Entre o "sacro" e o "gospel" (este segundo substituindo de alguma forma o velho evangélico ou crente) levantou-se o novo evangélico; o crente de vanguarda. Houve uma espécie de ressurreição no meio religioso, de um conceito que trocou de corpo ou de grupo, adaptado às novas necessidades de resistência.

De resto, cumpre-me a reiteração do respeito a todas as correntes, tendências ou facções da fé. Um respeito que se fundamenta quase especificamente nos fiéis, porque esses, diferente do que ocorre com a maioria dos líderes, não primam pelo poder. Querem a verdade e a buscam. E a busca da verdade, por si só, já é a salvação do ser humano...

...Mas isso até um renegado como eu, que não sabe de nada, termina por saber. Aí está, portanto, minha salvação: Ter essa busca em comum com os fiéis, ainda que por caminhos opostos, por achar que a verdade não tem donos, representantes, grêmios nem gaiolas.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 23/03/2008
Código do texto: T913719
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