Predadores
Os ataques dos marginais a turistas nas praias da cidade do Rio de Janeiro, exibidos pela televisão e noticiados em revistas e jornais, por incrível que pareçam, são de uma chocante semelhança aos ataques de predadores nas savanas da África. UMA VERGONHA PARA NÓS e, pior; muitos banalizam tais fatos com refrões consoladores, os quais já estamos cansados de ouvir, do tipo: - Poderia ser pior; - Ainda bem que ninguém morreu; - Bandido é isso mesmo; - Isso acontece em qualquer cidade, não é só no Rio não; - A polícia sabe de tudo e não faz nada; - Se os bandidos forem presos estarão soltos no dia seguinte; - A polícia tá envolvida; e por aí afora. Se apenas tivéssemos escutado ou lido as narrações das ocorrências e não tivéssemos visto com os próprios olhos, poderíamos até pensar que as narrativas foram pinceladas com metáforas dos narradores; que seriam justamente a comparação dos criminosos itinerantes com os animais predadores da savana. Mas lá, na África, a natureza justifica-se, seja pela cadeia alimentar e pelo instinto de sobrevivência animal. Aqui, o ataque do bicho homem nivela-se por baixo ao do animal. Porque animal é animal, sendo compreensível, ainda que chocante, o seu comportamento predador e considerando que a sua luta é pela sobrevivência, sob o risco de morrer-se de fome. Já o homem normal, contemporâneo, por mais marginalizado que seja, é um ser dotado de discernimento, de consciência, com plena capacidade para entender o que é ou não reprovável e de determinar a sua conduta. O que não se concebe é que indivíduos, mesmo marginais, comportem da mesma forma que predadores!
O Direito até admite o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever legal, a legítima defesa, diante de iminente e injusta agressão e por meios moderados, exigindo, ainda, como condição da imputabilidade penal, a maioridade (18 anos) e o pleno conhecimento, ao tempo da ação ou da omissão, do caráter delituoso do fato e da determinação de acordo com este entendimento, dentre circunstâncias agravantes e atenuantes aplicáveis a cada caso concreto. Mas as cenas que assistimos, e a que também estamos sujeitos, com certeza, não apresentam qualquer condição excludente ou de inimputabilidade, obviamente ressalvada a ação de menores, se ali presentes, mas, certamente, as cenas são uma flagrante demonstração da absoluta confiança que os criminosos têm na impunidade. O que se evidencia no Rio, que é um centro turístico, ilustra para o mundo o nível da violência cotidiana no Brasil. É UMA VERGONHA, UMA AGRESSÃO, não somente aos envolvidos, mas a todos os cidadãos e cidadãs de bem deste país, que já estão cansados da negligência das autoridades. Não é a toa que as nossas mais importantes instituições estão em crise. As pessoas de bem não estão mais confiando no Executivo, no Legislativo e, quem diria, no Judiciário. Assistimos diariamente escândalos e mais escândalos envolvendo escancaradamente as autoridades, de ponta a ponta, com criminosos e com os especuladores internos e externos, e não menos criminosos.
Por onde anda a apuração do furto dos 40 bilhões de dólares denunciado pela imprensa há poucos anos e que envolve celebridades políticas e empresariais da ativa? Já repararam que a violência tem tornado muito ruim a vida do cidadão brasileiro, mas muito boa a vida de criminosos e especuladores? Já perceberam que a onda da economia globalizada ameaça as conquistas sociais históricas, como: segurança no emprego, salário regular digno, com 13º e férias, previdência social garantida, aviltando o poder aquisitivo? Já entenderam que esta intentona do capital depravado é tão ou mais predatória quanto os ataques diários de assaltantes e que há correlação entre ambos? Já perceberam que, no contexto dos fatos, esta seja, seguramente, a forma mais estratégica e direta de dominação e apropriação do nosso país, dos nossos valores, das nossas riquezas, das nossas potencialidades, e, principalmente, dos nossos jovens?
Não há expectativa de um futuro melhor diante desses acontecimentos. Os governantes, para se manterem no poder, tentam iludir a todos, mas os fatos do dia a dia não negam a realidade em que estamos metidos. Um descalabro!