POLÍTICA & NEGÓCIOS
Meu falecido pai, Darcy Silva Conceição – aquele mesmo que, há uns 15 anos atrás, figurou em capa de ZH por haver devolvido quatro milhões e meio de reais depositados, por equívoco, em sua conta bancária e meteu a boca no Sistema – fez política por gosto e ideal. Despendeu parte expressiva dos recursos que amealhou como médico abnegado no interior para autofinanciamento de suas duas campanhas a deputado estadual, em que alcançou a suplência, assumindo por dois anos, ainda quando a Assembleia Legislativa do Estado ocupava o prédio da Rua Duque de Caxias. Não havia qualquer mordomia para o exercício de mandato parlamentar e a remuneração era apenas digna. Isto tudo nos anos 50 e 60, quando praticamente todos os políticos cumpriam a mesma saga. O que se podia recriminar, então, era que o homem público pecava pela demagogia, pela vaidade ou pela errônea opção de conduzir a vida. Alguns, por ingenuidade, outros, talvez, por falta de uma ocupação mais compatível e produtiva. Costumava assistir a sessões parlamentares e os embates eram duríssimos, interessantes, por que visceralmente ideológicos ou partidários. Mas o tempo passou, o progresso material aconteceu no bojo da nascente sociedade de consumo e os valores passaram a submeter-se a uma nova ética, especialmente à ética de resultados. Ninguém pode ser nostálgico, mas a atividade política, como tantas outras, transformou-se gradualmente em “business”, com traços empresariais marcantes, da campanha ao discurso. O colorido modelo norte-americano acabou prevalecendo, com a dimensão econômica que lhe é ínsita. Hoje, o perfil do homem público não seria reconhecido por aquele Rio Grande dos anos sessenta. Sem falar dos partidos políticos, que nem sei mais quantos são e o que almejam. O tempo não pára, a sociedade moderna é consumista, imediatista, profissional, vulcânica, mas, nem por isto, deve-se abrir mão de valores tradicionais ao bom convívio democrático. É difícil, mas não impossível, no regime da liberdade e da livre-iniciativa, que se estabeleçam regras fortes para a atividade pública, como, por exemplo, a que proíba ou restrinja, ao máximo, o financiamento de campanhas políticas. Ninguém vai tornar-se mais ou menos vulnerável à corrupção, visto que as remunerações deverão continuar adequadas e as leis sancionadoras da improbidade e de outros delitos permanecerão ou serão aprimoradas, sobremodo, fiscalizadas e cumpridas, com a participação popular. Quem for mau político e enganar o eleitor, ao menos que pague por isso. É um investimento pessoal, plenamente justificado para quem decide não prestar mais serviços comuns, tipo o nosso, aqui da planície. Não me venham dizer que é mais sacrificante. Alguns dirão que o modelo incrementará a ganância dos poderosos e afastará os menos favorecidos economicamente, mas não há nada mais facilitador dos baixos instintos que a realidade atual. Quem dispuser de poucos recursos, que conquiste espaço na mídia, nos sindicatos, nas organizações de serviço público, na praça pública, mercê de seu talento, vocação, determinação. Em qualquer democracia, o político é indispensável. A questão é torná-lo melhor. Bem melhor. Não à custa de tributos ou dos grandes capitais, que não pregam prego sem estopa.