500 anos de Camões
O que para Portugal de hoje representa celebrar 500 anos de Luiz Vaz de Camões, poeta dramaturgo do classicismo português. Expoente máximo das nossas letras, um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, nasceu em Lisboa em 1524, e morreu em 1580, contemporâneo de dois reinados: D. João III e seu neto D.Sebastião I,
um rei que viraria um mito : seu aprisionamento ou morte, já que o corpo nunca foi encontrado, aconteceu em Marrocos durante a batalha de Alcácer-Quibir, ali morreram 7.000 homens de armas, a nata da nobreza portuguesa. Portugal perdia seu rei, a dinastia de Aviz não deixou descendentes. A coroa portuguesa passou para D. Filipe II rei da Espanha, neto de D. Manuel I que assumiu o reino de Portugal e da Espanha.
Durante 60 anos Portugal apegou-se ao mito do Sebastianismo: acreditando, sem acreditar, que o rei D. Sebastião voltaria.
Camões, em 1553 parte para Goa na Índia e ali começou a Escrever o livro a quem deu o nome de “Os Lusíadas” uma obra de poesia épica, canta os feitos do povo português: a coragem e o gosto pela aventura vão ser a alavanca que os move. Esta obra prima, Camões dedica a D. Sebastião.
Por volta de 1556, concluída após o regresso do Oriente e uma breve passagem por Moçambique onde amigos o ajudaram a regressar a Portugal.
Tão pobre se encontrava.
Três anos após o regresso a Portugal , em 1572 publicou “ Os Lusíadas” . A obra é composta de dez cantos, 1.102 estrofes, 8.816 versos decassílabos, esquema rímico AB -AB- AB CC, oitava rima real ou camoniana. O tema central : A descoberta do Caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, uma epopeia legítima a enaltecer os feitos do “nobre povo, nação valente, imortal” . É a história de Portugal cantada em verso. “ OS Lusíadas” considerada a obra mais importante da Literatura de Língua Portuguesa.
Mas só isso? Claro que não: para Portugal e para os países que integram a (CPLP) Comunidade dos Países que fazem parte da Língua Portuguesa Camões é o pai da Língua Portuguesa. Por que será? Antes de Camões A Língua Portuguesa escrita era usada apenas em cartórios, especialmente em testamentos e nas igrejas, onde o Latim era fartamente utilizado nos atos religiosos e uso interno, porém já se ia adaptando o Latim ao que podemos chamar de um esboço do que hoje é a Língua Portuguesa. Foi Camões que realmente fundou a Língua Portuguesa: uma língua é formada por um dicionário, Camões adicionou ali por volta de 70 vocábulos, e uma gramática, ali sim Camões aprimorou de tal forma a estrutura gramatical da nossa Língua deixando-a mais-que-perfeita. Um modelo a ser seguido por tantas outras línguas. A Última Flor do Lácio, culta e bela. Um Brasão a mais que será nosso orgulho de ontem de hoje e de sempre.
E Foi só isso? Claro que não. Sob a influência de Danta Alighieri, Petrarca, Camões se torna lírico também. Através deles assimila o virtuosismo formal: geralmente sonetos: dois quartetos e dois tercetos versos decassílabos com as formas fixas do classicismo . Quanto ao conteúdo Camões é, como não podia deixar de ser, um poeta-filósofo a nos ensinar a refletir sobre o sentido da vida, do amor, a transitoriedade das coisas, um poeta existencialista, humanista por essência, e por ter vivenciado as contrariedades da vida, o sofrimento, por ter ousado se opor ao atraso da Idade Média em todas as dimensões. Assim como hoje, Camões queria suplantar o atraso da Idade Média “ Cale-se tudo que a velha musa canta que outra vós mais alta se levanta” . Também o mundo atual solta o grito preso na garganta e suplica por um mundo novo onde a Carta Magna tenha como foco, acima de tudo, proteger a natureza e ajudar o irmão.
Lita Moniz