ja agradeceu seus inimigos e adversários hoje?
ja agradeceu seus inimigos e adversários hoje?
Hoje, domingo preguiçoso, com meu golden retriver Léo, já que o mais velho deles, o Ulisses, faz uma semana que faleceu, isso depois de 15 anos vivendo conosco. PQP que falta o ‘véio’ nos faz. O Leo preguiçosamente deitado sob meus pés, resolvi, então, fazer um tour pela internet. Qual não foi minha surpresa, na página do meu amigo virtual Dr. Fábio Mota, jovem e grande profissional do Direito de Praia Grande/SP, deparar-me com um texto de sua autoria – “Já agradeceu as pessoas que te prejudicaram lá atrás na sua caminhada?”, por certo com inspiração no artigo de Marcel Camargo, cujo título “SOU GRATO ÀS PESSOAS DIFÍCEIS, POIS ELAS ME MOSTRAM COMO NÃO DEVO SER”.
Tanto o texto de Marcel Camargo, como o do Dr. Fábio Motta, ambos serviram-me de inspiração, também, para a minha exposição, sobretudo em razão da verdade e sabedoria que referidos textos esgarçam.
Na obra de Marcel Camargo deixa ele um recado missionário de que para “conviver requer calma, paciência e tolerância, para que possamos fortalecer nossas convicções cada vez mais, aprendendo as lições da vida, nesse caso, aprendendo a nos tornarmos pessoas que sejam o oposto daquelas que tanto nos desagrada.
Infelizmente, nem sempre estaremos bem acompanhados, pois, aonde quer que estejamos, haverá todo tipo de pessoas, inclusive as mais desagradáveis. Eis um dos preços a pagarmos por viver em sociedade, eis uma das razões de nossa necessidade de aprender sempre, onde e com quem estivermos. Tudo pode ser útil, tudo é aprendizado. Eu sou grato.
Cada um de nós possui a própria visão de mundo, valores, gostos, estilo, cada qual com sua história de vida, cada um tendo caminhado com passadas únicas, experiências peculiares.
Sentimentos não são iguais de pessoa para pessoa, tampouco pensamentos. As bagagens diferem entre as pessoas, bem como os pesos são sentidos de acordo com o que cada um possui dentro de si.
Por essa razão é que nos damos bem com algumas pessoas e nem tanto com outras, ou, ainda, não conseguimos nem ficar perto de algumas delas.
Alguns indivíduos realmente parecem ter o dom de irritar, de trazer discórdia, pesando qualquer ambiente em que estiverem. Vivem de contrariar, de ironizar, de dizer coisas desagradáveis, escolhendo os momentos mais inapropriados para isso. São aquelas de mal consigo mesma.
Vale, nesses momentos, percebermos se nossa antipatia provém das opiniões do outro, em razão de serem contrárias às nossas.
Ultimamente, há um nível por demais exagerado de intolerância em relação a quem pensa diferente. Não sejamos nós os intolerantes de plantão, que não suportam ter que confrontar um ponto de vista diferente, afinal, o confronto com o que foge ao nosso conforto muitas vezes se faz necessário. É pelo confronto de idéias que aprendemos.
Uma vez que não poderemos fugir aos encontros com pessoas difíceis, cabe-nos ao menos respeitá-las, mesmo que isso implique ignorarmos sua presença, afastando-nos delas.
Conviver requer calma, paciência e tolerância, para que possamos fortalecer nossas convicções cada vez mais, aprendendo as lições da vida, nesse caso, aprendendo a nos tornarmos pessoas que sejam o oposto daquelas que tanto nos desagradam. Como se disse, tudo serve de lição, só não aprende quem não quer.”
Por sua vez, com um pensamento e visão não menos messiânica, o jovem, culto e talentoso Dr. Fábio Mota, nos pergunta, em seu benfazejo texto com o título “Já agradeceu as pessoas que te prejudicaram lá atrás na sua caminhada?” E ele mesmo responde: “Eu já.
Conheci muita gente desonesta e ingrata nessa vida, gente que confiei, coloquei dentro de casa, empreguei ... Fui traído e prejudicado, cheguei a ter ódio e dizer para Deus, é justo isso Senhor?
Amadureci, e hoje agradeço a cada um deles que passaram por minha vida, superei, resisti e apreendi a exatamente não ser como eles.
Hoje não me permito sentir ódio, quero apenas distância de gente ruim e manter sempre perto os amigos de bem, que cada um continue colhendo exatamente aquilo que plantou, ou melhor, que passem a plantar coisas boas e assim colherão.”
Pois bem. Então, como num filme, em poucos segundos passou um treiler em minha mente e pude recordar de alguns fatos pretéritos dentre tantos outros a que tive que viver e conviver.
Sabe, num é fácil a vida para aqueles que são provenientes de uma camada social tida por excluída, ainda mais nos idos de 50. Ser de família rural, pobre de tudo, carente das mais comezinhas necessidades, e conviver com aqueles que aquinhoados pelos bens materiais que a vida proporciona a alguns, ter que optar por ser subservientes, ou então, mesmo com a barriga sem ter o que dar para as lombrigas, empunhar sua bandeira, e na esperança de que ‘se Deus quiser tudo dará certo”, ir à luta pelos seus ideais e pelo direito de não ter que submeter a quem quer que seja, e mirar o firmamento como um ponto possível de ser atingido.
Esta a opção dos pais. E Que opção. E que preço a pagar. Então malas nas costas e perna para quem tem e assim partiu para tentar fazer a vida na província onde, cria, que teria melhores condições e oportunidades para poder viver com um tiquinho a mais de dignidade e propiciar, ‘se Deus quiser”, uma vida ‘mió’ aos seus rebentos ainda crianças descalças, subnutridas, desconfiadas, intimidadas.
Na província pudemos, de fato, sentir a ‘dureza’ para encontrar espaço, não no seu sentido físico, mas espaço para projetar-se em meio à incipiente sociedade provinciana, mas ditadora de regras costumeiras de que deveriam submeter-se, subjugar-se, enfim, dizer ‘amém’ a tudo e a todos para, quem sabe, se úteis forem ‘conquistar o espaço’ almejado;
Difícil, sobretudo, quando se tem uma personalidade inquieta, libertária, independente, avesso a quaisquer tentativas de imposição doutrinária. Difícil vendo a prole aumentar e as dificuldades na mesma proporção, e, ainda, com esperanças reduzidas em face do cerco por representar ‘perigo’ um tabaréu com idéias revolucionárias em face da pregação doutrinária dos que se sentiam donos de tudo e de todos. Difícil por ter que conviver com uma casta de ‘sangue azul’, quando o que corre em suas veias nem cor tinha. Difícil, sobremaneira, por sujeitar-se, pois impossível sua inevitabilidade, ao preconceito (bulling) pela origem roceira, caipira, aliado à pobreza material, com uma renca de filhos sem quaisquer perspectivas de melhoras em sua qualidade de vida, ou o que era pior, sem perspectivas de propiciar uma vida digna ao menos com o mínimo necessário para que pudessem estudar e, quem sabe né, ‘se Deus quiser” ser alguém na vida.
Na medida que o tempo passa, com algumas melhoras na vida material em razão de trabalhar quase que 24 horas por dia, um no balcão de comércio, a outra no fogão com seus quitutes para a venda, e os rebentos, com suas caixas de engraxates pelas costas ou então com as de sorvetes pelas ruas da Provincia, tudo para auferir alguns trocados a mais.
Claro, algumas melhoras na qualidade de vida material iam ocorrendo, mas às duras penas, graças aos sacrifícios daqueles tidos por caipiras, ignorantes, tabaréus e que, pasmem, sem querer sujeitar-se às regrar dos costumes de que para a carta de alforria deveriam submeter-se, subjugar-se aos caprichos da classe dominante da época, aquilo que chamávamos de ‘todos poderosos’.
Escola para os rebentos com ‘bulling’ e tudo o mais que pudéssemos aguentar. A escola era prioridade pena de ‘porradas monumentais. Mas espaço sendo conquistado a centímetros, mas sem subjugar-se. Preferível o termo subversivo a que fossemos denominados de ‘testa de ferro’, ‘puxa saco’ e outros quejandos depreciativos. Ainda não éramos ao ver deles um perigo concreto para seus planos de dominação. Então, escola, a qualquer preço, sob pena de ‘porradas’ daquelas ‘felomenais”, mas escola, estudo e mãos à obra independentemente de nossas idades. Pura escravidão familiar.
Com o passar do tempo, rebentos já quase podendo alçar seus voos solos, e com sérias divergências internas familiares, pois éramos subversivos até em família com disputas por lideranças, aos poucos, de forma imperceptível, foi possível dar o grito de liberdade. Carta de alforria. Liberdade das tentativas de amarras doutrinárias. Liberdade para poder gritar. Para poder escolher. Para poder ser. Para poder optar. Liberdade aos que não foram pela vida aquinhoados com as facilidades, somente através dos estudos.
Inacreditável. Impensável. Mas quase todos os rebentos conseguiram uma proeza incrível, conseguiram terminar um curso superior. Cada um fez sua escolha. Cada um estudou e financiou como pode. Agora, família originária da roça, bando de caipira já não éramos mais. Mas despertou-se outra ira, talvez mais irracional ainda, tudo porque, ou por descuido, ou por não acreditar, ou porque os estudos a que buscaram deram a nós a alavanca indispensável para nos posicionarmos de igual para igual, poder olhar olho no olho e despertar neles, quer queiram, quer não, um mínimo de respeito pela proeza e história de vida de uma família da roça sem eira nem beira.
Mas não se iludam, pois quanto mais crescíamos no aspecto cultural, conhecimentos, mais atraíamos outra ira imensurável agora: a inveja, o ciúme, o sentimento de revolta silenciosa de que uns roceiros conseguiram em relação a todos da província, digo todo os poderosos dominantes, suplantar a todos que, pasmem ‘Deus meu’, estagnaram onde se encontravam. Poucos conseguiram seus cursos superiores. Outros enquanto os bens herdados aguentaram mantiveram seus status. Ao contrário, a família de roceiros, caipiras, sem eira e nem beira, e agora já despertava o respeito, sem que soubessem que o ciúme, a inveja, a intolerância sempre foi uma forma de reconhecer a capacidade e competência do desafeto e do adversário. Por isso sempre digo desperte no seu desafeto todo tipo de ciúmes, inveja, intolerância, porque com esses sentimentos estarão, sem que percebam, reconhecendo em você o que ela gostariam se ser. Enquanto se preocupam em destilar o veneno contra você, por certo esquecem de si e com isto jamais lograrão alçar voos a seu exemplo.
Por isso que sempre digo e os agradeço, pois meus desafetos, adversários foram os meus maiores, ou senão os maiores incentivadores para que eu atingisse meu sucesso, para que eu me sentisse motivado em superar todos os obstáculos impostos pela vida e por eles também.
Mas só isso não basta. Não é só o outro que é seu desafeto, o seu adversário, sendo que muitas vezes você é, em potencial, tão adversário de si próprio quanto o outro. Então tem que fazer um pacto consigo mesmo e agir tal qual deverá agir em relação ao outro – adversário, desafeto.
Pare de reclamar que não consegue fazer tal coisa e pare imediatamente de se criticar! Tente fazer as pazes com você mesmo, e se possível, faça um acordo de se tratar com mais carinho e amor diariamente. Tire alguns minutos do dia para cuidar de si, olhar suas qualidades, relaxar e ver o melhor que há em você. As pessoas que fazem isso se sentem mais seguras e motivadas para qualquer situação! Em relação a você não há como despertar em si e para si a inveja, o ciúme, etc.
Tudo o que seu adversário quer é que você erre sempre. No entanto errar é totalmente normal, e são os erros que nos ajudam a melhorar e a crescer. Pode ser difícil, mas se perdoar é fundamental. Lembre-se de que ninguém é perfeito, e o importante é aprender com os erros. Aprenda sempre e sempre fará com que seus desafetos percam tempo precioso para eles cuidarem de vida deles.
É preciso ser uma pessoa otimista e pensar positivo sempre que possível, ao contrário daqueles que nutrem inveja por você, mesmo com os problemas e tarefas complicadas do dia a dia. Porém há pessoas que ficam o dia inteiro reclamando sem motivos, e acabam até deixando o ambiente negativo. Mesmo que seja difícil, principalmente quando se trata de familiares, o ideal é se afastar e ficar longe de pessimistas. Muito longe.
Então este é minha receita do sucesso, e com toda humildade quero agradecer-lhes e dedicar-lhes a minha vitória pessoal.
Extrema, 10/12/17 (3h30min).
Milton Biagioni Furquim – Juiz de Direito
Milton Furquim