Por trás dos MUROS!

Por Trás dos Muros

São 07 horas da manhã, estamos na unidade prisional, vai começar o confere, entramos nas galerias e os primeiros gritos que ouvimos dos internos é “FUNCIONARIO NA GALERIA”, e um dos nossos replica “OLHA O CONFERE”.

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Assim procedemos ate terminar todas as galerias da unidade prisional e liberarmos nossos companheiros do plantão anterior, passagem de serviço sem alteração, é o inicio da rotina de uma unidade prisional.

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Começa o ir e vir, retirada de presos para o SOE, Defensoria Pública, Enfermarias, Escolas e outras atividades próprias deste mundo cercado por muros e que ninguém vê, vivemos uma rotina na profissão considerada a 2ª. mais perigosa do mundo e, mesmo assim pouco valor nos é dado.

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Hora de pagar o lanche, alguém dos nossos pergunta ao interno se recebeu o “LEITE”, imediatamente o interno retruca” QUAL É SEU FUNCIONARIO É A VAQUINHA” e assim continuamos um plantão de aparente tranquilidade, passado um tempo, ouvimos gritos vindo de uma das galeria: “FUNCIONÁRIO, FUNCIONÁRIO, INTERNO PASSANDO MAL” e lá vamos nós verificar a veracidade da informação ou se não é um mero embuste para desviar nossa atenção.

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Hoje é dia de visita na cadeia, o trabalho é insano, tirar preso para aprontar a quadra, outros para preparar o parlatório, os internos ficam extremamente ansiosos e agitados é o dia de maior trabalho, gritos constantes: FUNCIONARIO, SENHA NA GALERIA” após a entrada de todos os visitantes começa a vigilância e de repente avistamos um “RATÃO”, perda de carteirinha e preso direto para o isolamento.

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Termino de visita, ao retornar os internos para as galerias um principio de “BERIMBOLO”, interno “RESINOU” para sofrer uma geral, cadeia ameaça “BALANGAR”, os nervos afloram, todos estão atentos, se não amainar o alarme será tocado, o GIT estará pronto a intervir, mas a “SAGACIDADE” da turma contorna toda a Situação.

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Cadeia toda trancada, todos na Inspetoria, chega o oficial de justiça para cumprir alvará de soltura, lá vamos nós com as chaves nas mãos, paramos na porta da galeria e gritamos o nome do interno, imediatamente ouvimos um grito uníssono e uma algazarra, “OLHA A LILI” cantou a “LILI”.

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Estamos próximos do termino do dia, é hora do “LAO”, alguns internos pedem a “RETOMBA”, de repente um silencio ensurdecedor toma conta de toda a unidade e, ouvimos vindo do interior das galerias um grito: “ULTIMA VOLTA DO PONTEIRO” e em forma de oração ouvimos os presos enaltecendo sua facção.

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Chegou a hora de trancarmos toda a cadeia, hora do confere noturno, mais uma vez o grito da manha agora se repete a noite: “FUNCIONARIO NA GALERIA” e de pronto gritamos: “OLHA O CONFERE” os presos se perfilam para a contagem, tudo batendo todos trancados é hora de remanejarmos para o nosso quarto de hora.

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Pois bem, esta é uma pequena mostra de nossa rotina dentro de uma unidade prisional, quem por aqui passou e não experimentou este dia a dia não poderá jamais relatar ter vivido na integra sua profissão, a atividade fim nos traz experiência que levaremos para toda uma vida e poderemos falar: FIZ PARTE DESTA HISTÓRIA!

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Policial Penal Dórea

Cesar Dórea
Enviado por Cesar Dórea em 21/05/2021
Reeditado em 16/12/2021
Código do texto: T7260899
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