Notícias de Barroso em tempos de Covid19

Notícias de Barroso em Tempos de Covid-19

Pouco sabia do comportamento do povo de Montalegrte diante da Pandemia do covid-19

Minha mãe, Margarida Maria Duarte filha de José Custódio Duarte de Maria Pires Duarte faleceu dia 15 de Março, quando o covid-19 colocou o mundo em estado de alerta. Sem vacina, sem se conhecer dirteito como tratar esta epidemia, que não é uma gripinha qualquer, é fatal, que não poupa ninguém, a minha mãe querida parte deste mundo, não por causa do covid-19, foram os 96 anos, uma morte santa, a dormir a sexta.

Resta-me, neste tempo de luto a certeza, de que está na paz do Senhor e que seu corpo repousa para sempre no cemitério de Montalegre, a sua terra querida, de onde nunca gostaria de ter saído. Saiu porque os filhos saíram antes e ela se juntava a eles, como podia. Só a morte lhe tirou a esperança de ter seus filhos de volta à nossa terra à nossa velha casa.

Agradeço a quem acompanhou o breve funeral, que esteve ali na hora da despedida. Obrigada a todos que ali estavam, mesmo em tempo de confinamento, arriscaram estar ali a dar o último adeus à minha querida mãe. Obrigada a todos que gostariam de estar ali no funeral da minha mãe, mas o isolamento que se impunha falava mais alto. Eu também não estava, a minha saúde inspira cuidados: uma leve deficiência respiratória com algumas sequelas no pulmão, que vêm sendo acompanhadas por médicos especialistas, nada sério,mas requer acompanhamento e todos foram unânimes: não aconselhamos viajar, se fosse era mais provável ir parar a algum hospital e ficar por ali em quarentena.

Quero aqui agradecer publicamente ao Sr. Padre Vitor, muito obrigada Sr. Padre Vitor, a minha eterna gratidão por arriscar sair do confinamento que em Montalegre e na região de Barroso se está vivenciando e ir à Igreja do Castelo onde o corpo da minha mãe foi velado por um curto espaço de tempo, mas muito especial, as suas preces entregaram nas mãos de Deus uma alma boa, uma guerreira a combater o bom combate sempre: criar seus filhos.

De alma partida deixá-los ir ao encontro de outra vida, de outras terras onde pudessem caminhar rumo à realização de seus sonhos. Ficar ali era render-se à vida rural que por ali se levava, pobre em todos os sentidos. Não era isso que ela queria para os seus filhos, por isso os deixou partir. Obrigada Sr. Padre Vitor por ter ido até ao túmulo entregar à “Mãe Terra”, mais uma alma para ser abraçada por ela. Obrigada Sr. Padre Vitor que num momento tão triste como este, não descuida de estar junto dos que mais necessitam de orações, na hora da morte, na hora do funeral.

Obrigada Sr, Padre Vitor pelos filhos de Montalegre, agora confinados em suas casas, e com justa razão, afinal estão mesmo correndo dois riscos sérios: o que vem da Espanha, que depois da Itália, é dos países europeus que está sendo o país mais atingido pelo Covid-19 e do próprio país, Portugal, que pelas notícias que daí nos chegam não foi poupado, tem sim que se isolar. Que se cuidar mais da região de Barroso, por estar entre dois pólos de contágio, de contaminação.

Obrigada Sr. Padre Vitor por ser o amigo certo da hora certa. Obrigada Sr. Padre Vitor pela minha mãe, por todos os filhos de Montalegre que neste momento têm a sua presença a confortar a todos: a palavra de Deus dita por quem se preparou para ser o sacerdote que é.

Quero também agradecer ao Abel Neves, no momento que mais precisamos de um conforto, de uma palavra amiga, ali estava no funeral da minha mãe, Abel Neves, o ganhador do prêmio Camões 2009. Um escritor completo, romancista, autor de peças de teatro profundas, plenas de sabedoria, de empatia para com as necessidades do povo português.

Peças de teatro que vão além de Portugal, cosmopolitas, encarnam as aspirações da alma humana em âmbito Universal. E ali estava esse escritor a pegar nas alças do caixão da minha mãe, a confortar o meu irmão Vitor a quem coube acompanhar mais de perto os últimos anos de vida da minha mãe até aos momentos derradeiros de sua existência na Terra. Obrigada Abel Neves, a minha eterna gratidão por colocar de lado todo o risco de estar ali naquele momento e ser mais humano, mais amigo, o amigo certo na hora certa.

O que dizer desta pandemia que se alastrou pelo mundo inteiro? Um vírus tão ínfimo, tão pequeno que só microscópios de alta precisão o conseguem enxergar , mas tão fatal que não poupa ninguém. Dizem que só os idosos são vítimas fatais, claro que não é bem assim, até porque idoso significa vida longa, um organismo gasto pela idade, mas que se manteve saudável a vida inteira, velho é outra coisa, há muitos jovens que envelheceram antes do tempo, por descuidar do corpo: o foram enchendo de drogas perigosas e outros vícios nocivos para a saúde física e mental, velhos aos vinte anos, e o mundo está cheio deles.

Nas cadeias então, lotadas de jovens que enredaram por maus caminhos, deram para a sua vida um infeliz destino, e agora ali aglomerados, amontoados, vivendo em péssimas condições de higiene, de saúde , se enchendo de doenças, de toda a espécie, um vírus assim entrando ali seria fatal para todos e a contaminação mais do que certa.

A própria China de onde saiu este vírus, anunciou com certo orgulho que curaram uma senhora com 103 anos.

Então não é bem o que o nosso presidente Jair Bolsonaro disse em seu discurso: onde aconselhava os jovens a continuar em seus empregos, nas escolas, nos lugares públicos, afinal se pegassem esse vírus para eles isso seria uma gripezinha a mais. Uma clara posição que valoriza mais a economia do país do que a vida de seus habitantes.

Palavras bem infelizes que lhe estão custando caro, contrárias a todas as orientações vindas das organizações mundiais de saúde, de todas áreas da ciência, especialmente as que

se dedicam à saúde da humanidade. O confinamento é mesmo a solução mais eficaz, não sei por quanto tempo será necessário esta quarentena, mas agora é a solução mais viável, a que

temos ao nosso alcance para derrotarmos este vírus tão fatal, tão nocivo para a vida humana.

Que esta quarentena sirva para refletirmos mais sobre o que realmente importa, para que o mundo se contagie não com o Covid-19 mas com uma consciência coletiva do que vem

a ser a vida e o que devemos priorizar para que seja uma vida bem vivida, uma vida assistida

por governos sérios, competentes e conscientes de que os países não podem mais priorizar

o indivíduo, mas sim a coletividade, não é mais meia dúzia de ricos e o resto à míngua de tudo.

Não há mais lugar para “o que importa sou eu e os meus” . Este vírus tão insignificante, trancou-nos dentro de casa, pôs-nos a pensar que o mal do vizinho é um mal caminho querendo entrar no meu ninho.

Lita Moniz