O povo do interior norte e centro contra as explorações mineiras
Barroso fez história em Lisboa
O dia 21 de setembro começou bem cedo para muitos de nós que decidimos ir a Lisboa participar na manifestação contra as explorações mineiras. Pelas seis horas, porque o carro marcou hora de partida e quem não aparecesse, ficaria em terra. A viagem até correu bem apesar duma chuva miudinha a cair de vez em quando e a obrigar a cuidados mais atentos. O pessoal dormiu pouco e alguns aproveitaram para se recompor do sono perdido. Foram mais de cinco horas em viagem até à paragem no Rossio.
Às treze horas, estávamos a chegar. Dum e doutro lado, com curiosidade, aparecia um barrosão residente em Lisboa ou arredores à espera de amigos e conhecidos.
Ali, a concentração não deu nas vistas. Só quando o jovem vozeiro de serviço lançou os primeiros motes de “Futuro mineiro, não obrigado” é que o pessoal apareceu em força. De súbito, no largo ao fundo da Rua do Carmo já era muita gente, sim, de Barroso, do Minho e das Beiras. As tarjas e os cartazes a subir nos ares e o ar de manifestação reivindicativa deu em prender as atenções dos lisboetas e dos turistas.
“Não à mina sim à vida” num extenso cartaz que tomava a dianteira da manifestação transportado pelos membros da «Associação Montalegre com Vida» e outros voluntários foi a voz mais vezes repetida. Uns passos atrás era “a Mina contamina”.
Os agricultores de Morgade e Carvalhais ostentavam pequenos cartazes no seu tamanho mas grandes nas mensagens que transmitiam: “Mina é pobreza”, “Mina é contaminação”, “Mina é morte”, “Mina é destruição”, “Mina é doenças”...
Outros e muitos cartazes e tarjas, brancos e vermelhos de Barroso, redondos a negro e vermelho da Serra d'Arga, outros variados da Argemela, de Viana, Vila Nova de Cerveira, Vila Praia de Ancora, etc. davam colorido a aquela multidão: “Barroso Património Agrícola Mundial”, “Vila Praia de Âncora, Não à exploração do Lítio”, “COVAS Não ao lítio”, “SOS-Juntos podemos travar o ataque à biodiversidade, à desertificação, Não ao Lítio”, “Água é vida, Não queremos perder a nossa”, “Lítio = Corrupção”, “Lítio Não, Serra d'Arga” e mais, muitos mais cartazes empunhados uns por agricultores, alguns já idosos, aqueles que trabalham a terra mãe de sol a sol, outros por jovens de formação diversa, outros por artistas e atletas... Lindo e ao mesmo tempo emocionante!
Referir que por detrás da manifestação esteve muito trabalho, trabalho das pessoas do campo que puseram de parte o arranque das batatas, a recolha dos milhos e dos fenos para trabalhar os cartazes e ir a Lisboa gritar muito alto contra o governo que teima em não respeitar o seu cantinho onde nasceram e se criaram e pretende devassar propriedades privadas de terras de cultivo, lameiros de pasto, poulas e touças e ainda os terrenos baldios do pastoreio.
E as surpresas não foram poucas. Deu somente para ver porque a chuva impiedosa não permitiu os desejados contactos. Idosos e jovens, jovens casais com crianças de colo, artistas, atletas como foi o campeão paraolímpico Nuno Alves, de Tourém, entre outros, escondidos entre a multidão.
No final, na Praça Camões, sob as inclemências duma chuva fortíssima (tromba dágua) que apanhou alguns profissionais da comunicação social desprevenidos tendo sido bafejados com a sorte dos mais avisados lhes darem cobertura, os representantes das diversas organizações presentes expuseram os malefícios que as explorações de minerais acarretam e alertaram para as suas consequências, terminando com um agradecimento a todos os que se dignaram deslocar-se a Lisboa, percorrerem cerca de 1.000 kms para protestar contra a morte do interior. Disseram-no e repetiram vezes sem conta que o povo não vai permitir que as explorações avancem.
Terminada a conferência de imprensa, forçada pela chuva cada vez mais abundante, deu-se a retirada das pessoas à cata dum abrigo, ficando deste modo os jornalistas impedidos de completarem o seu trabalho com entrevistas a uma ou outra pessoa, tal como seria seu desejo.
O dia 21 de setembro fica para a história porque o povo das terras do interior norte e centro do país , sem partidos e sindicatos, livre e autêntico, invadiu o coração da capital do país a gritar pela vida contra a morte, a gritar muito alto que querem continuar a viver a vida deles na sua terra-mãe tantas vezes regada com os suores do seu próprio corpo.
Foi uma manifestação essencialmente contra a exploração do lítio porque é este mineral que cega muita gente simples. Foi uma manifestação do comunitarismo ancestral contra o lítio porque o capitalismo europeu escolheu o nosso pequeno país como cobaia. Manifestação grandiosa que superou tudo o que se esperava, que emocionou ver homens e mulheres do autêntico povo português envolvidos num acto por eles nunca imaginado. Manifestação autênticamente popular contra os truques dos governantes locais e de Lisboa submetidos a directrizes externas e a especulações falaciosas senão minados pelo monstruosa corrupção instalada no país. Manifestação do povo contra os traficantes e mentirosos e corruptos que pretendem iludir com a tomada de posições hipócritas porque coniventes com os invasores.
Pela parte que me toca, e sempre a manter-me afastado de protagonismo, fiquei habilitado a pensar que o interior e em particular Barroso ainda têm gente de força, capaz de defender a sua própria identidade e os seus preciosos bens.
As associações responsáveis por esta grandiosa manifestação merecem todo o nosso reconhecimento. Enquanto o povo unido se manifestar com a força que se viu em Lisboa, o Futuro Mineiro (Não Obrigado) passará ao lado da história no interior de Portugal.
Barroso fez história em Lisboa
O dia 21 de setembro começou bem cedo para muitos de nós que decidimos ir a Lisboa participar na manifestação contra as explorações mineiras. Pelas seis horas, porque o carro marcou hora de partida e quem não aparecesse, ficaria em terra. A viagem até correu bem apesar duma chuva miudinha a cair de vez em quando e a obrigar a cuidados mais atentos. O pessoal dormiu pouco e alguns aproveitaram para se recompor do sono perdido. Foram mais de cinco horas em viagem até à paragem no Rossio.
Às treze horas, estávamos a chegar. Dum e doutro lado, com curiosidade, aparecia um barrosão residente em Lisboa ou arredores à espera de amigos e conhecidos.
Ali, a concentração não deu nas vistas. Só quando o jovem vozeiro de serviço lançou os primeiros motes de “Futuro mineiro, não obrigado” é que o pessoal apareceu em força. De súbito, no largo ao fundo da Rua do Carmo já era muita gente, sim, de Barroso, do Minho e das Beiras. As tarjas e os cartazes a subir nos ares e o ar de manifestação reivindicativa deu em prender as atenções dos lisboetas e dos turistas.
“Não à mina sim à vida” num extenso cartaz que tomava a dianteira da manifestação transportado pelos membros da «Associação Montalegre com Vida» e outros voluntários foi a voz mais vezes repetida. Uns passos atrás era “a Mina contamina”.
Os agricultores de Morgade e Carvalhais ostentavam pequenos cartazes no seu tamanho mas grandes nas mensagens que transmitiam: “Mina é pobreza”, “Mina é contaminação”, “Mina é morte”, “Mina é destruição”, “Mina é doenças”...
Outros e muitos cartazes e tarjas, brancos e vermelhos de Barroso, redondos a negro e vermelho da Serra d'Arga, outros variados da Argemela, de Viana, Vila Nova de Cerveira, Vila Praia de Ancora, etc. davam colorido a aquela multidão: “Barroso Património Agrícola Mundial”, “Vila Praia de Âncora, Não à exploração do Lítio”, “COVAS Não ao lítio”, “SOS-Juntos podemos travar o ataque à biodiversidade, à desertificação, Não ao Lítio”, “Água é vida, Não queremos perder a nossa”, “Lítio = Corrupção”, “Lítio Não, Serra d'Arga” e mais, muitos mais cartazes empunhados uns por agricultores, alguns já idosos, aqueles que trabalham a terra mãe de sol a sol, outros por jovens de formação diversa, outros por artistas e atletas... Lindo e ao mesmo tempo emocionante!
Referir que por detrás da manifestação esteve muito trabalho, trabalho das pessoas do campo que puseram de parte o arranque das batatas, a recolha dos milhos e dos fenos para trabalhar os cartazes e ir a Lisboa gritar muito alto contra o governo que teima em não respeitar o seu cantinho onde nasceram e se criaram e pretende devassar propriedades privadas de terras de cultivo, lameiros de pasto, poulas e touças e ainda os terrenos baldios do pastoreio.
E as surpresas não foram poucas. Deu somente para ver porque a chuva impiedosa não permitiu os desejados contactos. Idosos e jovens, jovens casais com crianças de colo, artistas, atletas como foi o campeão paraolímpico Nuno Alves, de Tourém, entre outros, escondidos entre a multidão.
No final, na Praça Camões, sob as inclemências duma chuva fortíssima (tromba dágua) que apanhou alguns profissionais da comunicação social desprevenidos tendo sido bafejados com a sorte dos mais avisados lhes darem cobertura, os representantes das diversas organizações presentes expuseram os malefícios que as explorações de minerais acarretam e alertaram para as suas consequências, terminando com um agradecimento a todos os que se dignaram deslocar-se a Lisboa, percorrerem cerca de 1.000 kms para protestar contra a morte do interior. Disseram-no e repetiram vezes sem conta que o povo não vai permitir que as explorações avancem.
Terminada a conferência de imprensa, forçada pela chuva cada vez mais abundante, deu-se a retirada das pessoas à cata dum abrigo, ficando deste modo os jornalistas impedidos de completarem o seu trabalho com entrevistas a uma ou outra pessoa, tal como seria seu desejo.
O dia 21 de setembro fica para a história porque o povo das terras do interior norte e centro do país , sem partidos e sindicatos, livre e autêntico, invadiu o coração da capital do país a gritar pela vida contra a morte, a gritar muito alto que querem continuar a viver a vida deles na sua terra-mãe tantas vezes regada com os suores do seu próprio corpo.
Foi uma manifestação essencialmente contra a exploração do lítio porque é este mineral que cega muita gente simples. Foi uma manifestação do comunitarismo ancestral contra o lítio porque o capitalismo europeu escolheu o nosso pequeno país como cobaia. Manifestação grandiosa que superou tudo o que se esperava, que emocionou ver homens e mulheres do autêntico povo português envolvidos num acto por eles nunca imaginado. Manifestação autênticamente popular contra os truques dos governantes locais e de Lisboa submetidos a directrizes externas e a especulações falaciosas senão minados pelo monstruosa corrupção instalada no país. Manifestação do povo contra os traficantes e mentirosos e corruptos que pretendem iludir com a tomada de posições hipócritas porque coniventes com os invasores.
Pela parte que me toca, e sempre a manter-me afastado de protagonismo, fiquei habilitado a pensar que o interior e em particular Barroso ainda têm gente de força, capaz de defender a sua própria identidade e os seus preciosos bens.
As associações responsáveis por esta grandiosa manifestação merecem todo o nosso reconhecimento. Enquanto o povo unido se manifestar com a força que se viu em Lisboa, o Futuro Mineiro (Não Obrigado) passará ao lado da história no interior de Portugal.